“TERRENO OCCUPADO POR INDIGENAS FEROSES”: AS REPRESSENTAÇÕES DO TERRITORIO OESTE PAULISTA NO ATLAS DO IMPERIO DO BRASIL (1868) E AS RESISTÊNCIAS AOS LEVANTAMENTOS

Abstract

O mapa da província de São Paulo que compõe o Atlas do Império do Brasil publicado por Cândido Mendes de Almeida em 1868 apresenta a parte oeste da província de São Paulo, as margens do rio Tiete, em branco. Denominado de terreno desconhecido ou dominado por índios selvagens, esse espaço não foi cartografado pelo governo imperial até o início do século XX, com a expansão da economia cafeeira e a construção de estradas de ferro ligando o interior ao litoral. Nesse sentido, esse trabalho tem como objetivo analisar como o interior do território paulista foi representado por Candido Mendes de Almeida, compreender quais interesses estavam envolvidos na produção desse espaço como vazio e problematizar a ideia de que esse território ainda não havia sido cartografado apenas por falta de interesse do Estado. Para isso utilizamos o conceito de resistência de James Scott afim de analisar os discursos nos relatórios de presidente de província que tratavam sobre os aldeamentos indígenas e ainda as discussões de Matthew Edney e David Harley para analisar o mapa da província de São Paulo presente no Atlas, tendo em vista que longe de ser uma simples imagem da natureza, a cartografia é parte de uma rede de jogos de poder e interesses que influenciam diretamente na representação do território. Com isso conseguimos perceber que os terrenos deixado em branco nos mapas eram na realidade ocupados por nativos e outros sujeitos que resistiam cotidianamente aos levantamentos impedindo que o terreno fosse cartografado e incorporado ao poder imperial, que por sua vez, só poderia ocupar o espaço se o construísse como vazio, a espera de civilização. Assim, o jogos de poder em que o mapa estava inserido não era apenas relacionado as elites intelectuais da época mais também a esses sujeitos representados como inimigos ou selvagens.