A FACE DOMÉSTICA DO MAL: TRANSGRESSÃO E VIOLÊNCIA NA FICÇÃO DE LÚCIO CARDOSO

Abstract

Esta comunicação analisa matizes da poética do Mal na ficção de Lúcio Cardoso (1912-1968), em especial, os motivos que conduzem as personagens cardosianas a assumirem e proliferarem o Mal dentro do contexto familiar. Para tanto, adota-se um corpus literário que envolve as seguintes obras: Inácio (1944), O enfeitiçado (1954) e Baltazar (inconclusa), que compõem a trilogia O Mundo sem Deus, e Crônica da casa assassinada (1959). Nesse sentido, o presente estudo utiliza uma perspectiva crítico-analítica alicerçada nos fundamentos do pensamento dialógico e interdisciplinar, em virtude do imprescindível enleio entre literatura e outras áreas do conhecimento. De tal modo, a natureza da pesquisa é, preponderantemente, textual, e a metodologia adotada é a comparatista. Dentro dessa perspectiva, recorre-se a diversos teóricos, a saber: Arendt (1994), Bataille (2017), Bauman (2019), Birman (2009), Bourdieu (2015), Butler (2019), Camargo (2021), Chaui (2019), Dumoulié (2005), Eagleton (2013), Foucault (2014), Freud (2013), Ginzburg (2013), Girard (2008), Han (2017), Lavelle (2014) Pareyson (2012), Ricoeur (2013) e Saffioti (2004). Em caráter preliminar, constata-se que, na ficção em causa, o Mal é estetizado pela agressividade, violência e crueldade perpetradas no seio das relações parentais. O drama familiar vivenciado pelas personagens, seja sob a égide da mineiridade claustrofóbica seja sob a aura do subúrbio carioca, está impregnado pelas marcas traumáticas da violência. A ficção de Lúcio Cardoso desvela corpos desejantes, encarcerados e violentados; criaturas que experienciam prazer e sofrimento à medida que assumem as dores inerentes à inescapável condição humana de incompletude, o que, a um só tempo, transforma-as em vítimas e algozes dos próprios desejos, convertendo-se em artesãos da transgressão e, por conseguinte, do Mal. O autor do trabalho agradece o indispensável apoio financeiro da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico – Funcap.