RELAÇÕES MEREOLÓGICAS E GRAUS DE INTIMIDADE NOS PROTOCOLOS DE LEITURA DE OS DRAGÕES NÃO CONHECEM O PARAÍSO

Abstract

Não raramente certas obras literárias desafiam os padrões de gêneros estabilizados socialmente pelo cânone e apresentam-se como obras fronteiriças, não classificáveis ou com múltipla possibilidade de leitura. Este último é caso do livro Os dragões não conhecem o paraíso do escritor brasileiro Caio Fernando Abreu que em nota introdutória faculta ao leitor a escolha de encará-lo como um livro de contos em torno de uma mesma temática ou como um romance-móbile de aspecto fragmentário, mas produtor de um todo de sentido. Apresentaremos então os resultados provisórios de nossa pesquisa de mestrado em andamento que tem por objetivo geral analisar quais estratégias textuais permitem essa dupla possibilidade de leitura para a obra em questão. Para isso nossos procedimentos analíticos se sustentam sobre os pressupostos teórico-metodológicos da semiótica discursiva e de alguns de seus desdobramentos, como as propostas de Fontanille (1999, 2008) sobre as formas de construção da totalidade e os níveis de imanência, sobretudo as práticas discursivas. Além disso recorremos à categoria de graus de intimidade (HJELMSLEV, 1978) para mensurar a proximidade entre as partes. Até o momento, nossa pesquisa aponta para a hipótese de que cada protocolo de leitura indicado pelo livro organiza as grandes unidades textuais em diferentes relações mereológicas que produzem diferentes grau de intimidade e possibilitam a identificação dessas partes e da totalidade, como capítulos de um romance ou como contos em uma coletânea. Esses resultados provisórios nos levam a concluir em favor da hipótese de que a reiteração de construções espaciais, a baixa figuratividade em construções actoriais e a recorrência temática utilizados no decorrer da totalidade, em conjunto com a sequenciação e a escolha pelo tipo textual da concentração para as partes, possibilita que a obra seja lida sobre a égide de dois gêneros diferentes. Agradecemos a FUNCAP por financiar essa pesquisa por meio de uma bolsa de mestrado