A FOTOGRAFIA COMO FERRAMENTA CAPAZ DE VISLUMBRAR AS ENTRELINHAS DAS PAISAGENS URBANAS

Resumen

A cidade se movimenta em ritmo constante, acelerado e frenético. As buzinas ecoam pelas ruas e os sons se ramificam entre ruas, túneis e viadutos. Como se estivesse presa em sua própria inércia, a malha urbana parece não ter tempo para perder. Nesse cenário de intensa movimentação de corpos e de produção de imagens, a fotografia pode surgir como uma ferramenta capaz de desacelerar o tempo e de deslocar o olhar do público, tornando possível enxergar as paisagens urbanas presentes em uma cidade. Conforme o filósofo e pesquisador Nelson Brissac Peixoto, “está cada dia mais difícil ver (...) As coisas se banalizaram, as imagens tornaram-se clichês. Carentes de sentido, se equivalem, perdem toda magia” (PEIXOTO, 1991). Por meio da pesquisa “Afetos Urbanos: uma cartografia estético-política da fotografia cearense”, estudantes da Universidade Federal do Ceará (UFC), com orientação do professor Osmar Gonçalves dos Reis Filho, realizam o processo de buscar imagens que nadam contra a corrente da banalização e do esvaziamento. Fotógrafas cearenses como Ana Lira e Tamara Lopes conseguem abrir espaço para a contemplação da malha urbana a partir de suas câmeras, da mesma forma como artistas de outros estados, como Letícia Lampert, Giselle Beiguelman e Gabi di Bella. O fio que conecta essas mulheres é a capacidade de produzir imagens que não apenas apontam o óbvio ou extraiam um elemento a que gostariam de dar destaque, mas que deixam espaço para contemplação, permitindo que o olhar possa passear pelas paisagens urbanas e chegar a possíveis epifanias sobre o modo de ocupar e de ver a cidade. Como apontado por Barthes (2017, p.36), “no fundo, a fotografia é subversiva, não quando aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa”.