POSSIBILIDADES DE RISO NA RECEPÇÃO DO DIÁLOGO ENTRE TIRÉSIAS E ÉDIPO, EM ÉDIPO REI, DE SÓFOCLES

Resumen

Nosso trabalho tem como objetivo central identificar possibilidades de riso no diálogo entre Édipo e Tirésias, na tragédia "Édipo Rei" (vv. 300-462), de Sófocles, no que diz respeito à recepção. O rei Édipo, que vê, conversa com o vidente, que é cego; entretanto, Édipo claramente é o que não vê, pois a obviedade dos fatos chega a ser risível, mas ele realmente não percebe a verdade, acusando Tirésias de mentiroso, assassino e traidor. Antes disso, Tirésias hesita em falar e dá inúmeras pistas sobre a revelação ruinosa que está para anunciar. E ao invés de Édipo perceber, nessa hesitação de Tirésias, algo que pode ser verdadeiro e que compromete a si mesmo, Édipo entende que o vidente omite uma “verdade” terrível – a de que o próprio Tirésias seria o suposto assassino do rei Laio. Observar traços cômicos durante a leitura de uma cena como esta é algo bem particular, pois isso varia de acordo com o olhar de quem lê e pode infundir num anacronismo sem precedentes por estarmos distantes culturalmente, cronologicamente, e por, principalmente, recepcionarmos o drama através da leitura e não da encenação. Entretanto, tivemos uma experiência recente de leitura coletiva (on-line), no contexto da pandemia (via Google Meet), que nos fez confirmar e validar essa possibilidade de riso, no contexto da recepção, por parte de ouvintes e de leitores, apesar de a cena ter uma tensão forte por conta do "agón" entre Édipo e Tirésias.