ELEMENTOS AFETIVOS ENVOLTOS EM UM PROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO: O CASO DO DISTRITO BAIXIO DAS PALMEIRAS, CRATO-CE

Autores

  • CÍcera MÔnica da Silva Sousa Martins
  • Zulmira Aurea Cruz Bonfim

Resumo

O processo de desapropriação por interesse público é uma prática assegurada por lei onde qualquer locação pode ser desapropriada pela união, a partir de uma declaração de utilidade pública. Desconsiderando os aspectos psicossociais do habitar, a desapropriação em muita das vezes, se dá sem um diálogo efetivo do poder público com as comunidades afetadas, sem levar em consideração da amplitude do impacto desse processo. Tal processo é vivenciado por moradores de comunidades do distrito Baixio das Palmeiras, que serão desapropriados em virtude do Cinturão das Águas do Ceará, obra hídrica estadual. Em meio aos conflitos socioambientais vivenciados, os componentes afetivos desse processo se apresentam, coadunando com o objetivo desse estudo que é compreender quais os afetos predominantes no processo de desapropriação vivenciado pelos moradores do distrito. Como metodologia, optou-se pela aplicação do dezessete Instrumento Gerador de Mapas Afetivos (IGMA) e a realização de observação participante, dados esses analisados a partir da análise de conteúdo categorial. Dentre os afetos mapeados, foram encontradas imagens de agradabilidade, pertencimento e contraste, sendo a última a mais recorrente. É válido ressaltar que a díade de sentimentos da imagem afetiva de contraste (pertencimento/ insegurança) reflete os relatos de luta dos atingidos, que possuem forte pertencimento e apego ao lugar onde residem, porém vivem em um estado de permanente tensão causada pelo medo e incerteza sobre os efeitos das obras nas suas vidas e nas suas comunidades. Issso tem trazido reverberações na saúde física e mental dos moradores, em especial dos idosos. Conclui-se que, em contraponto aos afetos ativos referentes ao vínculo com suas comunidades, os moradores tem vivenciado situações de sofrimento ético-político no processo de desapropriação, mas que ao mesmo tempo que esse processo os despontecializa, os fortes vínculos com o lugar os fazem se engajar em ações de defesa do seu território.

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Publicado

2021-01-01

Edição

Seção

XIII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação