OS NOSSOS NÃO SÃO HOMENS ANEMAIS: TECENDO O SUBTANTIVO NEGRO NA ESCRITA DO JORNAL O EXEMPLO EM PORTO ALEGRE (1902-1911)

Autores

  • Felipe Ricardo Vieira Lopes
  • Leandro Santos Bulhoes de Jesus

Resumo

A palavra negro possuiu inúmeros significados ao longo da história do Brasil. No século 19, durante o período escravista, as e os africanos e seus descendentes foram nomeadas de diversas formas, são elas: negro(a), preto(a), mulato(a), criolo(a), africano(a), entre outras, usadas para definir condições sociais de escravizado(a) ou de liberto(a), por exemplo. Porém, como já foi chamado atenção em pesquisas anteriores a essa, dependendo da nomenclatura mais próximo se estaria da liberdade, ou seja, uma pessoa negra tida como mulata ocupava uma condição diferente da nomeada como preta. Percebendo as nuances desse substantivo negro, agora não mais no período escravista, mas sim no pós-abolição e nos dias republicanos brasileiros no Estado de Porto Alegre, de 1902 à 1911, analisa-se quais foram as mudanças que esse termo sofreu. É através da escrita do jornal O Exemplo, uma folha da chamada imprensa negra, que problematizam-se os usos desse substantivo, considerando que a escrita desse periódico foi movimentada para dar sentidos diferentes daqueles atribuídos anteriormente pelos escravizadores, já que nas páginas desse jornal os(as) autores(as) afirmam uma identidade: a de negro(a). Aqui esta palavra começa a ganhar outros significados, pois, por meio da escrita os(as) jornalistas se afirmam e positivam o substantivo, chegando a questionar o uso de palavras que remetiam ao período da escravização como mulato, criolo e também o hábito do uso do diminutivo ao se referir às chamadas "pessoas de com", inclusive na escrita de outros periódicos da referida cidade. Reivindicando outras identidades através da escrita, as e os autores inseriam as pessoas negras nos embates sobre as noções de humanidade e sociedade, ao qual à elas tinham sido negado. Empreende-se, portanto, um projeto de sociedade calcado noutras noções de humanidade, ancorado também nas necessárias transformações do substantivo negro.

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Publicado

2021-01-01

Edição

Seção

XIII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação