ACESSIBILIDADE DIGITAL E MERCADO: UMA ANÁLISE DISCURSIVA CRÍTICA DO TEXTO JORNALÍTICO POR QUE ACESSIBILIZAR A WEB?

Resumo

A temática da acessibilidade está intrinsecamente relacionada com o processo de inclusão social das pessoas com deficiência. De acordo com Leitão (2014), a acessibilidade, em seus eixos arquitetônico, tecnológico, pedagógico e atitudinal, constitui-se na condição necessária para que as pessoas com deficiência sejam incluídas em todas as instâncias da sociedade. Diante disso, objetivamos analisar como a temática da acessibilidade digital e das pessoas com deficiência são representadas discursivamente no texto intitulado Por que acessibilizar a web?, publicado no Jornal Folha Acessibilidade, produzido no contexto da Secretaria de Acessibilidade UFC-Inclui. Fundamentamo-nos teoricamente na Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 2003), para a qual o discurso é parte constituinte das práticas sociais, conformando-as e sendo por elas conformado, numa relação dialética. Além disso, amparamo-nos nos estudos sobre a deficiência e a inclusão desenvolvidos pelo Modelo Social de Deficiência (BARNES, 2012), que conceitua a deficiência como uma opressão social sobre as lesões individuais. A metodologia é de cunho qualitativo-interpretativista, e ampara-se na análise textual detalhada proposta por Fairclough (2003) como meio para análises discursivas críticas. A análise do texto nos mostra que as relações semânticas entre as palavras e orações representam apenas a perspectiva mercadológica proporcionada pelas tecnologias digitais acessíveis, o que evidencia os “empresários” e “desenvolvedores” como os atores sociais que mais lucram com as tecnologias digitais. As pessoas com deficiência são representadas como “pessoas ávidas a usufruir”, o que concorda semanticamente com uma frase do primeiro parágrafo “aumento do poder de compra”. Concluímos que o texto jornalístico opera uma comoditização das tecnologias digitais acessíveis, isto é, retira o foco da luta pela inclusão e transporta para os bens de consumo e as relações mercadológicas.