TRAMAS ESCARLATES: A CONSTRUÇÃO NARRATIVA SOBRE CRIMES VIOLENTOS NOS JORNAIS FORTALEZENSES (1860-1890)

Resumo

É nosso intuito analisar como o gênero jornalístico do fait divers constituiu uma fórmula narrativa específica para o crime durante o século XIX. Por meio dele, procuramos atentar para as relações sociais citadinas, principalmente, para a constituição de tramas sobre a violência nos periódicos locais nesse período. Procuramos ver no desenvolvimento e na frequência desse gênero, uma diversificação dos discursos sobre a violência, o crime e a morte. Por meio do mesmo, podemos perceber ora uma tentativa de legitimar, noutras uma resistência/transgressão da ordem e das normas vigentes à época. Nessa perspectiva, procuramos discutir como essa narrativa sobre crimes violentos, grotescos ou bizarros transformou-se, num gênero efetivo, ao cristalizar condutas transgressoras, crimes ou mortes violentas em notícia. Dessa maneira, buscamos entender essa produção narrativa do crime como um composto literário e factual que, para além do compromisso com a informação, buscava causar comoção, choque, perplexidade, entretendo, embora de forma indevida. Através da análise da documentação (jornais) percebemos como se construíram, nas folhas locais, outras narrativas sobre o crime e suas marcas na trama social. Entendemos, por fim, os fait divers enquanto gênero que renovava e reapresentava ao público outras formas relatar o crime ou a violência. A primeira fase da pesquisa resultou na percepção dos jornais, por meio de notícias, artigos e textos oficiais enquanto espaço de elaboração e colaboração entre os discursos jornalístico e o literário. Assim, nossa intenção é problematizar como a fabricação e a circularidade desse gênero narrativo revela sobre o próprio caráter violento da sociedade local e como esta tentava lidar com isso, para além dos discursos tradicionais, das normas ou das leis.