O enigma da visão: as possibilidades do corpo na fenomenologia de Merleau-Ponty
Palavras-chave:
Merleau-Ponty. Olhar. Fenomenologia. Estética. Obra de arte.Resumo
Este trabalho examina a questão do olhar na obra de arte a partir da ontologia. Investiga, a princípio, os pressupostos que, desde Platão, tornaram a imagem (eidos) um elemento filosófico por excelência. A abordagem se separa da filosofia platônica e da noção de olhar como epistême e leva a discussão para o âmbito da fenomenologia de Merleau-Ponty, que pensa e compreende a realidade pelo olhar num duplo significado, que vê a si mesmo e também é visto por ele. A obra de arte, nesse âmbito, não é apenas um objeto que revela algo a ser contemplado, mas entrevê e cria o próprio mundo no qual o homem ganha o sentido. O texto segue o fio condutor da ontologia da obra de arte, enquanto encaminha o pensar para a busca do lugar e da importância da arte, que se revela originariamente como habitação poética do próprio homem. O olhar na arte não apenas descortina algo, mas na própria ação de ver, funda o mundo poético para o homem. A visão tem, nesse processo, um papel fundamental porque transfigura sob novos aspectos o mundo a nossa volta e permite que o homem passe também a ser entendido de outro modo a partir disso. A questão do olhar não se restringe às limitações do corpo, mas ao contrário, dota o próprio corpo de uma possibilidade renovada de ver que, ao mesmo tempo, afirma e transpõe a limitação do sensível. Para tematizar essas questões o artigo se divide em três tópicos: o primeiro trata brevemente da importância do olhar na mitologia grega; o segundo, expõe a concepção clássica do olhar na filosofia e o terceiro, discute a possibilidade de um olhar fenomenológico evocado pela arte.
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