O SUJEITO DESAPARECIDO NA TEORIA MARXIANA
DOI:
https://doi.org/10.30611/2022n25id80837Abstract
“Marx na Universidade!” Esta palavra de ordem sinalizou as reivindicações do Movimento Estudantil, que agitou as universidades alemãs há mais do que cinco décadas, refletindo sobre a missão político-social da formação universitária. O fato de, naquele tempo, a indicação de uma aula sobre a teoria de Karl Marx ter sido sacrificada pela censura dos órgãos políticos da universidade tornou-se incompreensível em nossos dias.[1] Pelo contrário, depois da preocupação intensa com a teoria marxiana nas décadas passadas, o interesse nela parece ter diminuído rapidamente. Acho que foram sobretudo duas razões que levaram a esse processo. Em primeiro lugar, a crítica da economia política foi aceita como teoria científica, tendo enfraquecido assim seu potencial crítico em relação ao desenvolvimento real das sociedades cunhadas pelo capitalismo tardio. Ela tornou-se apenas uma base entre outras na compreensão científica da realidade social.[2] Além disso, a teoria, ela mesma, contém traços objetivistas ao apresentar a análise das estruturas materiais e econômicas, fazendo desaparecer o sujeito humano — fato este, que levou a teoria a aproximar-se aparentemente aos dogmas positivistas da moderna ciência. A teoria de Marx correria, por isso, o risco de mover-se na vizinhança do positivismo científico sacrificando seu impulso emancipatório. Como pôde essa perversão surgir na recepção dessa teoria? Por que esta teoria tão ambiciosa perdeu seu potencial político, deixando-se incluir no pluralismo das teorias científicas? Achando que a teoria de Marx em si mesma não foi inocente quanto a esse processo ou, ao menos, a esse risco, não quero dizer que tivesse refletido de modo insuficiente sobre a emancipação humana. Muito pelo contrário, provarei que a história de sua recepção, assim como a construção teórica da crítica da economia política dão razões significativas para obrigar seu autor a destematizar os sujeitos humanos e, por isso mesmo, chamar a atenção a esse sujeito desaparecido. Em dois passos, explicarei a seguir as razões fundamentadoras dessa tese à primeira vista paradoxal. Na primeira parte da argumentação examinarei o desenvolvimento da teoria de Marx, que se lê como processo de abandono do discurso sobre o sujeito humano, ao passo que na segunda localizarei o destino dos sujeitos e da perspectiva emancipatória, provocados pelas razões internas dessa teoria. Finalmente, incluirei alguns pontos caraterísticos de uma subjetividade humana não dominada pela alienação vigente nas nossas sociedades capitalistas, extraindo assim uma perspectiva produtiva da argumentação anterior.
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