FORÇA E TOTALITARISMO EM APRENDER A REZAR NA ERA DA TÉCNICA, ROMANCE DE GONÇALO TAVARES
Resumo
O presente artigo analisa a figuração da força e da violência no romance Aprender a rezar na era da técnica – Posição no mundo de Lenz Buchmann, último da tetralogia O Reino, de Gonçalo Tavares. Em diálogo com as reflexões das pensadoras Hannah Arendt e Simone Weil, apresento a relação do protagonista Lenz Buchmann com o fazer e a técnica, na qual se evidenciam as associações entre postura totalitária e a supremacia do fazer, em detrimento de outros aspectos da condição humana, como a ação (no sentido arendtiano de ação política), o pensamento e o juízo. Ademais, estabelecer o diálogo entre a figuração literária da realidade do poder e da violência realizada por Tavares e a interpretação de fenômenos semelhantes operada por Arendt e Weil me parece uma forma de ilustrar e compreender a relação de construção mútua que a literatura e os demais discursos que se dão no mundo sustentam entre si. Espero que esse trabalho possa concorrer em favor de uma maior integração entre os estudos literários e as demais formas de investigação da realidade, mormente as assim chamadas ciências humanas.Referências
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Trad. de Roberto Raposo. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
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BREPOHL, Marion (org.). Eichmann em Jerusalém: 50 anos depois. Curitiba: Editora UFPR, 2013.
TAVARES, Gonçalo. Aprender a rezar na era da técnica – Posição no mundo de Lenz Buchmann. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
_____. Um homem: Klaus Klump. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
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_____. Diário da Fábrica (fragmentos). In: BOSI, Ecléa (org.). A condição operária e outros estudos sobre a opressão. Trad. de Therezinha G. G. Langlada. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 73-94.
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