POLIFONIA E IDEOLOGIA PATRIARCAL NA VOZ DO NARRADOR-PROTAGONISTA EM A DÓCIL DE FIÓDOR DOSTOIÉVSKI
Resumo
Este trabalho parte da compreensão da literatura não como mera fruição estética, mas a expressão do movimento histórico em que se insere, segundo as premissas de uma crítica cultural materialista. Pretende-se aqui realizar uma análise de cunho histórico-crítico do conto A Dócil, de Fiódor Dostoiévski, originalmente publicado em novembro de 1876, na revista Diário de um Escritor. No entrecho, encontra-se a voz de um homem que, angustiado, tenta rememorar o processo que levou sua esposa ao suicídio. Dá-se relevo à ocorrência de polifonia no sentido bakhtiano, recuperado por Bezerra (2017), ou seja, discute-se que no conto a voz da personagem-protagonista reproduz e tenciona múltiplas ideologias e discursos inerentes a seu contexto histórico. A hipótese de trabalho que se levanta consiste em afirmar que, ao valer-se da polifonia como fundamento do discurso literário, Dostoiévski cria uma personagem que problematiza a ideologia patriarcal vigente em fins do século XIX, na Rússia, marcada pela o atraso econômico consequente da desigualdade social e do autoritarismo dos czares.
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