Os gêneros epistolar e satírico nas Cartas chilenas, atribuídas a Tomás Antônio Gonzaga

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Resumo

As Cartas chilenas, atribuídas a Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810?), são estudadas a partir de sua especificidade enquanto obra do gênero epistolar satírico. Para tanto, efetuamos uma configuração desse gênero, que se fundamenta na ética para efetuar uma crítica mordaz à figura de Fanfarrão Minésio. Baseado na leitura de uma obra de Francisco José Freire, o Cândido Lusitano, procuramos demonstrar a relação que a arte de escrever cartas guarda com a arte retórica ainda no século XVIII.

A tópica do soldado fanfarrão, ou miles gloriosus, é indicada, assim como o significado do nome Critilo. Indica-se, ainda, o papel da écfrase ou descrição na construção de etopeias, pinturas morais presentes nas Cartas chilenas. Conclui-se apontando que a historiografia “romântica” do século XIX sempre fez uma leitura nacionalista tanto do movimento da Inconfidência Mineira quanto das treze (incompletas) Cartas chilenas que chegaram até nós. Trata-se, entretanto, de uma leitura que não se sustenta mais nos dias atuais, com apontaram Antonio Candido (1959) e Júnia Ferreira Furtado (1993/4).

Biografia do Autor

Ana Paula Gomes do Nascimento, Universidade de São Paulo/FFLCH

Mestre em Teoria e História Literária pelo IEL/UNICAMP (2012) e doutoranda em Literatura Portuguesa pela FFLCH/USP.

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Publicado

2019-07-30