Para dizer o quanto te amo (saberei dizer?): cartas de Graciliano a Heloísa Medeiros
Resumo
Este ensaio examina a correspondência ativa de Graciliano Ramos, partindo-se da eleição de algumas cartas de amor do autor de Vidas secas (1938). Trata-se das missivas endereçadas a Heloísa Medeiros, reunidas em Cartas, coletânea publicada originalmente em 1980. A presença de Heloísa na correspondência acontece como uma peça em dois atos: o primeiro cobre o espaço de um mês, de 16 de janeiro a 8 de fevereiro de 1928. No segundo ato, ao compulsar o maço de cartas transcritas para o livro, o leitor já se depara com Heloísa Medeiros Ramos, isso a partir de 1930. Apesar da diversidade de papeis exercidos pela segunda Heloísa, interessa mais a este trabalho examinar a vastidão da presença, na vida do escritor, de uma jovem nascida em Maceió, em 1910, e que o fez tomber amoureux, no instante mesmo em que a viu, nas celebrações de um antigo Natal. Nesse sentido, um percurso se impõe: comenta-se a respeito da prática amorosa via carta/literatura ao longo do tempo, particulariza-se a produção literária brasileira identificada com o gênero e, por fim, analisa-se a correspondência íntima do escritor em foco.
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