Teatro ligeiro e antropofagia textual:
uma leitura de A filha de Maria Angu, de Artur Azevedo
Resumo
O presente artigo tem por objetivo realizar uma leitura da paródia A Filha de Maria Angu (1893), na qual o dramaturgo Artur Azevedo satiriza o momento político de implementação da República no Brasil e aborda temas como herança negra, revelando personagens típicas do cenário carioca finissecular. Desse modo, analisamos o gênero adaptação literária na escrita do autor como contraponto ao conservadorismo crítico e estético da belle époque, o qual privilegiava o teatro lírico e o teatro de tese. Ao processo de deglutição do estrangeiro de Azevedo, damos o nome de antropofagia textual, à luz do ideal de devoração cultural proposto, anos mais tarde, por Oswald de Andrade. Logo, investigamos também a contribuição do escritor para o desenvolvimento do teatro cômico musicado do Rio de Janeiro, também conhecido como ligeiro, por meio de releituras de clássicos franceses transportados para cenários e motivos brasileiros, imprimindo, assim, marcas que remetem à sua concepção de teatro brasileiro: popular e democrático.