Transgressões na experiência da maternidade em Com Armas Sonolentas
uma linhagem matrilinear marcada pelo trauma e pela alienação
Resumo
O presente artigo parte da análise da obra Com Armas Sonolentas: um Romance de Formação (2018), de Carola Saavedra. O fio condutor do romance é a experiência traumática da maternidade, em quadros aparentemente independentes, mas que compõem uma única história de três mulheres: a linhagem matrilinear fundada no estranhamento e na renúncia em relação ao filho gerado acidentalmente. Por parte da genitora, tanto as relações amorosas que desembocam na gestação, quanto o período anterior ao nascimento da criança, são marcadas por uma profunda alienação e desejos de recusa à entrega afetiva. Com o intuito de fundamentarmos nossa leitura, apoiaremo-nos num breve recorte teórico sobre a maternidade, entendida como construção histórica, política, discursiva, ideológica e psicanalítica, além de constituir um dispositivo veiculador de poder. Nesse sentido, podemos afirmar que a visão da maternidade transmitida no romance é transgressora, contribuindo para reordenamento de estereótipos e (pré) conceitos atrelados à maternagem, evento carregado de exigências do amor materno incondicional; as narrativas de Saavedra configuram um Bildungsroman que problematiza profundamente a visão essencialista e biologizante do corpo feminino, tomado na sua função procriadora e acolhedora.