Vigilância e autocontrole em Um Amor Incômodo, de Elena Ferrante
Resumo
Este artigo lida com o romance de estreia da escritora italiana conhecida pelo pseudônimo Elena Ferrante. Em Um Amor Incômodo, publicado em 1992, Ferrante trabalha com temas que posteriormente serão desenvolvidos com mais intensidade na tetralogia napolitana. Entre eles, e tema principal deste texto, está a subjugação da mulher à vigilância masculina e a necessidade que ela tem de exercer o autocontrole sobre o próprio corpo. Assim, em primeiro lugar, o artigo trabalha com a diferença entre as posições de Amalia e Delia, respectivamente mãe e filha, no enquadramento do gênero e quanto à violência masculina e a necessidade de vigilância sob o jugo dos homens da família. Depois, investiga-se como essa vigilância masculina se traduz em autocontrole, que Delia incorpora como herança do patriarcado. Por fim, conclui-se com uma conjectura sobre o modo como o autocontrole propicia uma forma de narrar o trauma da pedofilia vivido por Delia, que a distancia da herança paterna e que lhe permite recuperar a verdade acerca da violência de gênero e da condição feminina.