A ESCRITA DE SI EM SYLVIA MOLLOY: UM ATO DE LEITURA OU A MEMÓRIA EM RUÍNAS

Autores

  • Lygia Barbachan de Albuquerque Schmitz Universidade Federal de Santa Catarina

Resumo

Neste artigo, a escrita de si será mostrada como um ato de leitura, a partir de dois textos da escritora argentina Sylvia Molloy: o ensaio Vale o Escrito: a escrita autobiográfica na América Hispânica e o romance Desarticulaciones. Em ambos, a memória está em ruínas. No primeiro, constrói, a partir da concepção de Paul De Man, um panorama da escrita autobiográfica hispano-americana dos séculos XIX e XX, que dá voz aos mortos, aos ausentes e aos marginais, ruindo a memória oferecida pela visão eurocêntrica da escrita autobiográfica; no segundo, por meio do Mal de Alzheimer, problematiza a questão da memória na escrita autobiográfica, mostrando os limites de se ler uma vida quando o objeto de escrita (a memória) está em ruínas. Operando, portanto, como “desvio de rota”, segundo Silviano Santiago, por meio de estilhaços, trânsitos e restos, a autora trabalha com uma escrita de si irreverente, crítica, que abre as possibilidades de leitura da vida e, portanto, de uma escrita autobiográfica suplementar ao cânone europeu, porque, enfim, “estampa e revela a vida”.

Biografia do Autor

Lygia Barbachan de Albuquerque Schmitz, Universidade Federal de Santa Catarina

Bacharel em Língua e Literatura Vernáculas pela UFSC e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Literatura, na Linha de Pesquisa Teoria da Modernidade, da mesma Universidade.

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Publicado

2017-08-01