Maquinarias de guerra e mortes juvenis nas periferias do Ceará / War machines and juvenile deaths in the peripheries of Ceará
DOI:
https://doi.org/10.36517/revpsiufc.12.1.2021.2Resumo
O objetivo deste artigo é problematizar como maquinarias de guerra em territorialidades periferizadas operam na produção de juventudes matáveis no bojo da intensificação da violência letal no Brasil, tomando a cidade de Fortaleza como exemplo empírico e a noções de necropolítica e políticas de inimizade, de Achille Mbembe, como operadores conceituais. Num primeiro momento, traz reflexões teóricas sobre essa própria tecnologia de gestão e produção da morte. Num segundo momento, analisa-se como “maquinarias de guerra” engendram “zonas de morte”, sendo a articulação entre disciplinamento, regulação biopolítica e produção/gestão de um “fazer morrer” característica da ocupação colonial na atualidade. Com isso, apontamos como o recrudescimento da violência letal nas margens urbanas expressa sua condição de colônias contemporâneas, em que processos de racialização maximizam a precarização de corpos juvenis negros, sob o fundamento da perpetuação de relações de inimizade.
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