A prevalência do fato físico sobre o fato psíquico como frenesi
DOI:
https://doi.org/10.36517/arf.v17iespecial.95584Palavras-chave:
Consciência. Materialismo. Frenesi. Metafísica inconsciente.Resumo
A possibilidade de subordinar o eu a uma função do cérebro, e por essa via reduzir a emergência da consciência aos limites dos processos desse substrato material, não são questões que surgiram na contemporaneidade. Na verdade, o problema se atualiza desde a Grécia antiga, e em nossos tempos exterioriza sua renovação na promessa de que as neurociências demonstrarão, enfim, a causalidade e a identidade entre a consciência e a atividade neuronal. A força dessas promessas está na popularidade da concepção epistêmica que as impulsiona: todo fato psíquico deriva, necessariamente, de um fato físico. Já nos cursos de psicologia e metafísica no liceu de Clermont-Ferrand, Bergson coloca sob suspeita os fundamentos dessa relação unidirecional, que acabaria conduzindo a um paralelismo psicofísico ou ao epifenomenismo. A despeito das inúmeras tentativas de comprovação, essa concepção permanece indemonstrada, mas a convicção que lhe é subjacente não deixa de exercer seu efeito pathico sobre nós: mais que uma posição epistemológica, a crença na espacialização da psique se tornou uma posição ontológica, que fascina ao ponto de conseguir dissimular sua artificialidade. Dessa perspectiva, podemos pensar as expressões do materialismo que assegura e encoraja essa transformação como uma espécie de frenesi, através das quais uma tendência totalizante da nossa relação com o mundo se evidencia. Na esteira desse discurso aparentemente científico, o que sobressai é uma metafísica inconsciente de si mesma. Essa denúncia permanente nas obras de Bergson nos servirá como ponto de partida neste artigo, ao passo que as leis de dicotomia e do duplo frenesi serão nossas balizas no questionamento dessa redução do psíquico à matéria.
Downloads
Referências
BAILLY, A. Dictionnaire Grec Français. Paris: Hachette, 2000.
BECKERMAN, A; FLOHR, H.; KIM, J. (Eds.). Emergence or Reduction? Essays on the Prospects of Nonreductive Physicalism. Berlin; New York: Walter de Gruyter, 1992.
BERGSON, H. A alma e o corpo. In: BERGSON, H. A energia espiritual. São Paulo: Martins Fontes, 2009. p. 29-59.
BERGSON, H. Aulas de psicologia e metafísica (1887-1888). São Paulo: Martins Fontes, 2014.
BERGSON, H. Fantômes de vivants. In: BERGSON, H. Mélanges. Paris: PUF, 1972. p. 1002-1019.
BERGSON, H. L’âme et le corps. In: BERGSON, H.; POINCARE, H.; GIDE, Ch.; WAHNER, F. R.; de WITT-GUIZOT, F.; RIOU, G. Le matérialisme actuel. Paris: Flammarion, 1913. p. 7-48.
BERGSON, H. Le parallélisme psycho-physique et la métaphysique positive. In: BERGSON, H. Mélanges. Paris: PUF, 1972. p. 463-502.
BERGSON, H. Les deux sources de la morale et de la religion. Paris: PUF, 2008.
BERGSON, H. Matière et mémoire. Paris: PUF, 1990.
BERGSON, H. O cérebro e o pensamento: uma ilusão filosófica. In: BERGSON, H. A energia espiritual. São Paulo: Martins Fontes, 2021. p. 191-209.
CASSIN, B. (Dir.). Vocabulaire européen des philosophies: Dictionnaire des intraduisibles. Paris: Seuil, 2004.
CASSOU-NOGUÈS, P. Les démons de Gödel: Logique et folie. Paris: Seuil, 2007.
CHANTRAINE, P. Dictionnaire étymologique de la langue grecque. Limoges: A. Bontemps, 1980.
CLASTRES, P. Arqueologia da violência: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
DALISSIER, M. Mécanisme, Mécanique et Machinisme Selon Bergson. Klēsis, s/v., n. 53, 2022, p. 1-34.
DAWKINS, R. Deus, um delírio. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
DEHAENE, S. Vers une Science de la vie mentale. Paris: Collège de France, 2006.
FONTENELLE, B. L. B. Jugement de Pluton, sur les deux parties des nouveaux dialogues de morts. Paris: Michel Brunet, 1704.
JUNG, C. G. Analytical Psychology and Weltanschauung. Princeton: Princeton University Press, 1981.
JUNG, C. G. Basic Postulates of Analytical Psychology. Princeton: Princeton University Press, 1981.
JUNG, C. G. O Livro Vermelho. Edição e introdução de Sonu Shamdasani. Petrópolis: Vozes, 2013.
LECLERC, A. Uma introdução à filosofia da mente. Curitiba: Appris, 2018.
LEWIS, O. Localizing the soul in the body. In: KORNMEIER, U. (Ed.). The Soul is an Octopus: Ancient Ideas of Life and the Body. Berlin: Medizinhistorisches Museum der Charité, 2016. p. 30-35.
LIDDELL, H. G; SCOTT, R. A Greek-English Lexicon. Oxford: Trustees of Tufts University, 1940. Disponível em: https://www.perseus.tufts.edu/hopper/. Acesso em: 14.out.2023.
NICOLELIS, M. O verdadeiro criador de tudo. São Paulo: Crítica, 2020.
NIETZSCHE, F. W. Los filósofos preplatónicos. Madrid: Editorial Trotta, 2003.
NIRO, L. The conservation of nervous energy: Neurophysiology and energy conservation in the work of Sigmund Exner and Josef Breuer. Studies in History and Philosophy of Science, v. 102, s/n., 2023, p. 1-11.
PIGEAUD, J. Folie et cure de la folie chez les médecins de l’antiquité gréco-romaine – La manie. Paris: Belles Lettres, 2010.
UMBELINO, L. A. F. C. Somatologia Subjectiva: Apercepção de si e corpo em Maine de Biran. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.
VAN DER EIJK, P. Body, Soul and Life in Ancient Medicine. In: KORNMEIER, U. (Ed.). The Soul is an Octopus: Ancient Ideas of Life and the Body. Berlin: Medizinhistorisches Museum der Charité, 2016. p. 16-23.
VIDAL, F. O sujeito cerebral: um esboço histórico e conceitual. Polis e Psique, v. 1, n. 1, 2011, p. 169-190.
WATERLOT, G.; KECK, F. Introduction et notes. In: BERGSON, H. Les deux sources de la morale et de la religion. Paris: PUF, 2008.
ZANFI, C. La machine dans la philosophie de Bergson. In: ABIKO, S. (Ed.). Annales bergsoniennes VI: Bergson, le Japon, la catastrophe. Paris: Presses Universitaires de France, 2013. p. 275-296.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Rodrigo Barros Gewehr

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos (SOBRE COPYRIGHT E POLÍTICA DE ACESSO LIVRE):
1. Autores mantém OS DIREITOS AUTORAIS concedidos à revista OU Direito de Primeira Publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado à Atribuição de Licença Creative Commons (CC BY) que permite o compartilhamento dos trabalhos com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
2. Autores têm permissão para aceitar contratos, distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (por exemplo: publicar no repositório institucional ou como um capítulo do livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho on-line (por exemplo: em repositórios institucionais ou em sua página pessoal) mesmo durante o processo editorial, haja visto que isso pode aumentar o impacto e citação do trabalho publicado.






._._3.png)
._._._.png)