O real e o irreal: metafísica e filosofia do conhecimento em Bergson e Husserl
DOI:
https://doi.org/10.36517/arf.v17iespecial.95585Palavras-chave:
Filosofia Contemporânea. Metafísica. Filosofia do Conhecimento. Fenomenologia Pura. Bergson, H.Resumo
Trata-se aqui de retomar a questão sobre o não-ser na Filosofia Contemporânea por um contraponto entre a fenomenologia do conhecimento de Edmund Husserl e o “empirismo metafísico” de Henri Bergson. A pergunta fundamental diz respeito a qual é o significado do não-ser e se podemos pensá-lo sem contradição. Minha hipótese é de que as respostas de Husserl e de Bergson quanto a tal interrogação são inconciliáveis e isso permite tanto compreender a especificidade de cada uma dessas filosofias como também indicar orientações distintas para a investigação ontoepistemológica. Por uma explicitação da ressignificação elaborada pela Fenomenologia pura do problema e do método da Filosofia Transcendental, pretendo mostrar inicialmente por que aquela se constitui como uma ciência eidética cujos fenômenos são “irrealidades”. Num segundo momento, por referência às teses bergsonianas acerca do estatuto do “possível” e do “real”, proponho que os fenômenos irreais que constituem o objeto mesmo da Fenomenologia pura revelam o mal-entendido filosófico que concede uma pré-existência em forma de ideia do possível ou ideal quanto ao real. Se pertinente, tal percurso permite que se articule em Bergson uma filosofia do conhecimento pós-transcendental que aponta para um novo tipo de realismo ontológico. Por fim, pretendo mostrar que, num sentido mais fundamental, as divergências ontoepistemológicas entre Bergson e Husserl são secundárias quanto a uma direção espiritual filosófica compartilhada.
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