No limite do impossível: o avesso da educação
DOI:
https://doi.org/10.36517/arf.v17iespecial2.96379Palavras-chave:
Educação. Avesso. Psicanálise. Materialismo histórico. Crítica feminista. Impossibilidade.Resumo
Este artigo propõe uma leitura filosófica da educação a partir de seu avesso, entendido não como desvio, mas como estrutura que revela a impossibilidade constitutiva do ato de educar. A partir de um diálogo entre a psicanálise freudo-lacaniana, o materialismo histórico-dialético e a crítica feminista, argumenta-se que a promessa moderna de universalidade e emancipação se sustenta sobre exclusões sistemáticas de gênero, raça, classe, território e linguagem. Sob a aparência de neutralidade, a escola atua como instância ideológica que reproduz desigualdades e silencia sujeitos dissidentes do ideal iluminista. A psicanálise inscreve a educação entre as “profissões impossíveis”, o materialismo histórico revela sua função reprodutora no tecido social e o feminismo denuncia o sujeito universal moderno, ao mesmo tempo em que afirma epistemologias insurgentes. Nesse horizonte, o fracasso formativo não é desvio, mas sintoma de um projeto civilizatório excludente e, paradoxalmente, condição de reinvenção. A aposta é uma crítica feminista como potência que emerge da contradição, do ruído, do mal-estar e da margem, concebendo a formação como travessia inacabada, tensionada e insurgente. Nesse processo, o ato das mulheres suleia a criação de outros modos de viver, pensar e ensinar, desorganizando o instituído e abrindo brechas para imaginar o novo. A verdadeira revolução da educação não virá pela harmonia, mas pela fissura: é no que falta, no que escapa, no que não se fecha, que a educação deixa de apenas reproduzir e se reinventa como espaço de liberdade e invenção.
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