A crueldade pode ser piedosa? Considerações sobre o conceito de Piedosa Crueldade em O Príncipe de Maquiavel
DOI:
https://doi.org/10.36517/Argumentos.16.esp.94293Palabras clave:
Maquiavel. Política. Crueldade. Religião. Piedosa.Resumen
Apesar de a crueldade ser uma espécie de irracionalidade na condição humana, esse fenômeno, a crueldade, tem na literatura política, conforme o arcabouço teórico de autores como Maquiavel, um aspecto instrumental. Neste sentido, a crueldade atua em diferentes âmbitos, podendo ser tencionada em favor de objetivos que tenham consonância com razões políticas, convertendo algo que é reconhecidamente um mau em um meio para fins imprescindíveis. Todavia, mesmo um poderoso “mecanismo” de domínio como a crueldade pode elevar os seus efeitos quando relacionada a um, de certa maneira, contraditório fenômeno: a religião. No capítulo XXI de O Príncipe, O que convém a um príncipe para ser estimado, podemos evidenciar um exemplo singular dessa associação, entre a crueldade e a religião, a partir do agir político do rei espanhol Fernando de Aragão, “o rei católico”, contra os “marranos”. Trata-se de uma ação repleta do uso dos supracitados elementos, religião e a crueldade, em seu estágio mais elevado. Ao se servir “sempre da religião”, “para poder realizar maiores feitos”, Fernando de Aragão comete uma transgressão, mas que é nomeadamente piedosa, sendo, como o próprio oximoro indica: Piedosa Crueldade. A partir desse exemplo, adotamos como hipótese a possibilidade de que a crueldade pode ser justificada mediante a uma retórica religiosa, sendo, no interior da obra política de Maquiavel, considerada como piedosa. Na primeira parte da pesquisa, desenvolveremos, de forma geral, a temática da crueldade e da religião na obra política de Maquiavel, enquanto na segunda e última parte, relacionaremos a crueldade à religião e, assim, demonstraremos como essa associação, entre crueldade e a piedade (como um elemento da religião cristã), culmina na Piedosa Crueldade.
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