TECNICISMO, TRABALHO E EDUCAÇÃO EM MARX
DOI:
https://doi.org/10.30611/2020n19id61574Keywords:
Marx, Técnica, Capital, Trabalho, EducaçãoAbstract
O objetivo deste artigo é dissertar sobre o modo como Marx trata do processo da técnica no panorama contraditório da relação entre capital e trabalho. Vê-se, a partir dessa formulação, como o tecnicismo está presente na estrutura produtiva do capitalismo e como isto reverbera na educação escolar. Examina-se, conforme o pensamento econômico marxiano, como no processo do trabalho, peculiar ao regime do capital, a técnica e a tecnologia são derivativas desse processo. Há, deste modo, condições de inferirmos a vinculação entre a produção material e o sistema educacional nas sociedades capitalistas. O desenlace deste exame é a compreensão de que se tome a técnica, a tecnologia e a maquinaria enquanto condições que as remetem ao estudo do desenvolvimento histórico da produção capitalista. Neste diapasão, a classe dos trabalhadores está submetida aos ditames do tecnicismo do processo do trabalho. Destarte, o decurso da produção e reprodução da vida social é, em essência, antinômico. Às relações econômicas encerra-se a correspondência das formas ideológicas ou da superestrutura jurídica e política. A educação escolar, na sua forma patente de componente ideológico da sociedade, retroalimenta as condições materiais da produção. O Estado é o ente que tem a competência para mediar as necessidades instrumentais do aparato produtivo com o sistema institucional de ensino e educação. Há, no modo capitalista de produção, uma contradictio in adjecto, visto que ela é, essencialmente, social, já a apropriação é, contraditoriamente, privada. A educação corrobora esta estranha situação social, visto que impõe aos alunos um padrão disciplinar que interessa fundamentalmente à produção. Importa, aqui, uma nova contradição. Tanto os educadores quanto os educandos defendem, em importante medida, os seus próprios interesses. Logo, há de se considerar a luta política e o papel do sujeito histórico-revolucionário – o proletariado. A educação se faz, assim, condição intelectual mínima para que a classe trabalhadora tome conhecimento da teoria marxiana, o que significa a posse da munição intelectual capaz de fazer plausível uma prática que busque a sua autoemancipação, na construção de uma sociabilidade genuinamente humana.
References
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: Elementos para uma teoria do sistema de ensino. 3. ed. Trad. Reynaldo Bairão. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1992.
CARNOY, Martin. Educação, economia e Estado: base e superestrutura; relações e mediações. Tradução de Dagmar M. L. Zibas. São Paulo: Cortez, 1984, p. 22-23.
CHAGAS, Eduardo Ferreira. Marx e os seus textos sobre educação e ensino. Palestra proferida no VI Curso de Extensão: “A Filosofia da Educação: Uma Discussão a Partir da Tradição Filosófica”, UFC, 8 jun. 2018.
____ . “Diferença entre alienação e estranhamento nos Manuscritos Econômico-filosófico (1844), de Karl Marx. Revista Educação e Filosofia, Uberlândia, UFU, v. 8, n. 16 p. 23-33. jul./dez. 1994.
____ . “O pensamento de Marx sobre a subjetividade”. In: CHAGAS E. F. et. al. (Orgs.) Subjetividade e educação. Fortaleza: Edições UFC, 2012. p. 37-62.
CHAGAS, Eduardo Ferreira; QUEIROZ, Fábio José de. Da pedagogia do capital e de sua antítese: violência, (de)formação do trabalho e a luta pela formação humana, Dialectus, ano 3, n. 9, set./dez., 2016, p. 100-112.
ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. 10. ed. Trad. de Leandro Konder. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1985.
FELISMINO, Sandra Cordeiro. “Marxismo, a filosofia insuperável do nosso tempo!”, In: Trabalho, educação e a crítica marxista”. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2006. p. 289-306.
FORÇAS produtivas e relações de produção”. HARRIS, Laurence. In: BOTTOMORE, Tom (Editor). Dicionário do pensamento marxista. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.
GT Filosofia da tecnologia e da técnica. “Apresentação”. Boletim ANPOF, s/d. Disponível em: < http://anpof.org/portal/index.php/en/gt-filosofia-da-tecnologia-e-da-tecnica>. Acesso em: 27/ abr. 2020.
HARVEY, David. Os limites do capital. Trad. Magda Lopes. São Paulo: Boitempo, 2013.
LIMA FILHO, Domingos Leite. “Educação técnica e educação tecnológica”. In: OLIVEIRA D. A. et. al. Dicionário: trabalho, profissão e condição docente. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2010. CD-ROM.
MARX, Karl. Instruções para os delegados do conselho geral provisório: as diferentes questões. Tradução de José Barata Moura. Moscovo: Edições Progresso Lisboa, 1982. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/marx/1866/08/instrucoes.htm>. Acesso em: 06 dez. 2018.
____ . Manuscritos económico-filosóficos. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1989.
____ . “Para a crítica da economia política”. In: Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. Tradução de Edgar Malagodi. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 107-140.
____ . O capital: crítica da economia política. Livro Primeiro (v. 1 e 2); “O processo de produção do capital”. Tradução de Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
MÉSZÁROS, István. Marx: a teoria da alienação. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia – Tomo I (A - D) Trad. Maria Stela Gonçalves et. al. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
NASCIMENTO, João Bosco Brito do. A emancipação humana no jovem Marx: o Estado e a história. Dissertação de Mestrado, João Pessoa, UFPB, Departamento de Filosofia, 1998.
____ . A violência na sociedade e na educação em Marx e Engels. Tese de Doutorado. Fortaleza, UFC, Departamento de Educação, 2019.
RANIERI, Jesus. Alienação e estranhamento: a atualidade de Marx na crítica contemporânea do capital. s/d. Disponível em: <http://biblioteca.clacso.edu.ar/ar/libros/cuba/if/marx/documentos/22/Alienacao%20e%20estranhamento....pdf>. Acesso em: 05 mai./2020.
ROMERO, Daniel. Marx e a técnica: um estudo dos manuscritos de 1861-1863. São Paulo: Expressão Popular, 2005.
SANTOS NETO, Artur Bispo dos. Universidade, ciência e violência de classe. São Paulo: Instituto Lukács, 2014.
Downloads
Published
Issue
Section
License
Authors who publish in this journal agree to the following terms:
- Authors retain the copyright and grant the journal the right of first publication, with the work simultaneously licensed under the Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International (CC BY-NC-ND 4.0) License, which allows the non-commercial sharing of work, without modifications and with acknowledgment of authorship and initial publication in this journal.
- Authors are authorized to take additional contracts separately, for non-exclusive distribution of the version of the work published in this journal (eg publish in institutional repository or as a book chapter), with acknowledgment of authorship and initial publication in this journal.
- Authors are allowed and encouraged to publish and distribute their work online (eg in institutional repositories or on their personal page) at any point before or during the editorial process, as this can generate productive changes as well as increase the impact and citation of published work (See The Free Access Effect).