A PÓS-MODERNIDADE E O PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO: QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS E SEU IMPACTO NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO
DOI:
https://doi.org/10.30611/2021n22id71233Palabras clave:
Patrimônio cultural, Pós-modernidade, Contemporaneidade, CidadaniaResumen
O artigo propõe uma análise do processo de expansão do conceito do patrimônio cultural ao longo dos séculos XX e XXI, com especial ênfase no contexto histórico-cultural da contemporaneidade. Neste período, diversos autores identificam uma condição sociocultural e estética específica que rompe com os paradigmas da modernidade, caracterizada como pós-modernidade ou outros termos com sentidos similares. O campo disciplinar da arquitetura e urbanismo foi, conforme afirmam Jameson (1997) e Harvey (2008), um dos primeiros a perceber esta ruptura – e as especificidades desta nova lógica cultural se faz sentir nas construções e nas cidades, inclusive nas tradicionais, reconhecidas como patrimônio. O campo específico do patrimônio cultural experimentou, nas últimas décadas, um acelerado processo de expansão tanto conceitual e de suas categorias, como também do seu recorte geográfico e temporal. Ferramenta essencial para a construção da cidadania, da educação cultural e cívica e da consciência coletiva, o patrimônio cultural parece experimentar, no último século, um reconhecimento sem precedentes. No entanto, por ser um acurado espelho da sociedade, as questões e tensões demonstradas pelo patrimônio cultural nas últimas décadas também refletem disputas: contestações e ressignificações de memórias e monumentos, confrontando as grandes metanarrativas totalizantes e universais da modernidade, em prol da construção de um discurso mais complexo, representativo, inclusivo e diversos. Outra questão que impacta o processo contemporâneo de patrimonialização é a comoditização da cultura e da memória, que passa a ser consumida e gerida pela indústria turística, sofrendo os efeitos típicos da sociedade do espetáculo que Débord (1997) descreve e que parece se consolidar cada vez mais, agora com o auxílio das tecnologias digitais. Com base neste quadro, questiona-se qual é o impacto destas questões na construção do cidadão contemporâneo, diante das complexidades, contradições e disputas narrativas, e quais seriam os desafios da educação patrimonial?
Citas
BAUMAN, Zygmunt. O mal estar na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
--------------------------. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
CAPIBERIBE, Artionka. Patrimônio Indígena. In: CARVALHO, Aline; MENEGUELLO, Cristina. Dicionário temático de patrimônio: debates contemporâneos. Campinas: Editora da Unicamp, 2020. Pp. 229-232.
CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade/Ed. Unesp, 2001.
DÉBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 1997.
FONSECA, Maria Cecília F. L. Patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; MinC-IPHAN, 2005.
FRAMPTON, Kenneth. Modern Architecture: a critical history. Nova York: Thames & Hudson, 2004.
GALLO, Silvio. Modernidade/pós-modernidade: tensões e repercussões na produção de conhecimento em educação. In: Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.3, p. 551-565, set./dez. 2006.
HARTOG, François. Regimes de Historicidade – presentismo e experiências do tempo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
HARVEY, David. A condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
HENNING, Priscila. O espetáculo do patrimônio: imagem e turismo no centro histórico de São Francisco do Sul - SC. 2019. 351 f. Tese (Doutorado em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2019
JACQUES, Paola Berenstein. Patrimônio cultural urbano: espetáculo contemporâneo? In: Revista de Urbanismo e Arquitetura, Salvador, vol. 6, nº 1, 2003, p. 33-39. Disponível em: http://www.portalseer.ufba.br/index.php/rua/article/view/3229/2347. Acesso em junho de 2021.
JAMESON, Fredric. Pós-Modernidade: A lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Ed. Ática, 1997.
KÜHL, Beatriz Mugayar. Preservação do Patrimônio Arquitetônico da Industrialização: Problemas teóricos de restauro. Cotia: Ateliê Editorial, 2008.
LIPOVETSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004.
LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.
MENEZES NETO, Hugo. Notas sobre patrimônio, estátuas derrubadas e vidas precarizadas. In: Revista Aurora – Revista da Semana do Patrimônio Cultural do Pernambuco. Recife, FUNDARPE, v. 1, n. 5, 2020, pp. 55-65.
PEIXOTO, Paulo. Tudo o que é sólido se sublima no ar: políticas públicas e gestão do patrimônio. In: CYMBALISTA, Renato; FELDMAN, Sarah; KÜHL, Beatriz. Patrimônio cultural: memórias e intervenções urbanas. São Paulo: Annablume/Núcleo de Apoio e Pesquisa São Paulo, 2017.
RODRIGUES, Marly. Políticas públicas e patrimônio cultural. In: CARVALHO, Aline; MENEGUELLO, Cristina. Dicionário temático de patrimônio: debates contemporâneos. Campinas: Editora da Unicamp, 2020. p. 87-90.
SCHLEE, Andrey R; QUEIROZ, Hermano. O jogo de olhares. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. No 35. IPHAN, 2017. pp. 105-120.
SMITH, Laurajane. Uses of Heritage. New York: Routledge, 2006.
URRY, John. Globalizando o olhar do turista. In: PLURAL, Revista do Programa de Pós‑Graduação em Sociologia da USP, São Paulo, 2016, v.23.2, p.142-155.
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0), que permite o compartilhamento não comercial, sem modificações e com igual licença do trabalho, com o devido reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).