Narrativa angolana e moçambicana: desfazendo fronteiras hegemônicas
Resumo
Analisam-se as narrativas moçambicana e angolana, como projetos de resistência e manifestações contra a globalização neoliberal incitados pelo sistema canônico universal. Desenvolvendo uma análise comparativa entre o pensamento hegemônico e as narrativas africanas em língua portuguesa como sinônimo de resistência, objetiva-se investigar elementos reveladores de ruptura com o cânone literário colonial ocidental alicerçado em conceitos como o bloomoldiano (2001) que exclui/representa a história e cultura africanas. Enfoca-se o discurso literário, como um espaço representativo na ilustração dos embates hegemônicos, exclusão dos processos de formação identitárias e possibilidades de resistência, partindo do sujeito local. Com base em Schmidt (2017), Coutinho (2003), Eneida Souza (2007), Hall (2008), que rasuram pensamentos permeados de autoridade e violência, faz-se uma leitura a contra-apelo em resposta à exploração e à opressão sofridas sob jugo colonial. O corpus é formado pelos contos Mestre Tamoda do livro Mestre Tamoda e outros contos” (1984) de Uanhenga Xitu, angolano, e Nós Matamos o Cão Tinhoso da obra com o mesmo título ([1964] 2014) de Luís Bernardo Honwana, moçambicano. Nessa âmbito, reafirmam-se as possibilidade de múltiplas identidades em constante deslocamento e o estudo do cânone ocidental, como possibilidade de discutir e questionar seus critérios e estratégias de exclusão das minorias.