Os sentidos em palavras: composição do imaginário e sensorial da personagem Beatriz de A tradutora
Résumé
A estrutura de A tradutora, romance de Cristovão Tezza, é fragmentada encenando a forma como a mente da protagonista Beatriz (des)organiza os pensamentos, sensações e acontecimentos cotidianos. O mundo ficcional apresenta-se de forma caótica exigindo que Beatriz traduza signos diversos, para além da profissão de tradutora, interpretando gestos, entonações e sotaques, textos eruditos e produtos da cultura de massa. Sob o olhar da tradutora, como eixo central da narrativa, os demais personagens vão sendo revelados. Para além dessas questões, a protagonista se identifica, envolvendo-se emocionalmente com personagens e situações que ela “viu” em prosas literárias, séries e filmes. Assim, buscamos analisar o aspecto imagético, sensorial e de encenação, assim como as referências cinematográficas que emergem do discurso romanesco de A tradutora, a partir do repertório de recepção e imaginário de Beatriz. Com esse intuito, recorremos a estudiosos que teorizam conceitos relacionados à personagem, imaginação e imagem: Antônio Cândido, Gaston Bachelard, Jacques Aumont e Jean-Paul Sartre.
Références
AUMONT, Jacques. A imagem. Trad. Estela dos Santos Abreu e Cláudio C Santoro. São Paulo: Papirus, 1993.
BACHELARD, Gaston. Imaginação e matéria. In: BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Trad. Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
______. O ar e os sonhos: Ensaio sobre a imaginação do movimento. Trad. Antônio de Pádua Danesi. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
BENVENIESTE, Émile. A linguagem e a experiência humana. In: BENVENIESTE, Émile. Problemas de linguística geral II. Trad. Eduardo Guimarães et al. 2 ed. São Paulo: Pontes Editores, 2006.
BRAIT, Beth. A personagem. São Paulo: Ática, 1985.
CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. Trad. Ivo Barroso. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
CÂNDIDO, Antônio. A personagem do romance. CÂNDIDO, Antônio et al In: A personagem de ficção. 10 ed. São Paulo: Perspectiva, 2004.
CHALRUB, Samira. A metalinguagem. São Paulo: Ática1986
COMPAGNON, Antoine. O leitor. In: O demônio da teoria: literatura e senso comum. Belo horizonte: Ed. EGMG, 1999.
FONSECA, Eder. O ensaísta nasceu da vida profissional: Cristovão Tezza- Romancista, contista, cronista e ensaísta. Disponível em: http://www.panoramamercantil.com.br/o-ensaista-nasceu-da-vida-profissional-cristovao-tezza-romancista-contista-cronista-e-ensaista/> Acesso em: 16 Ago. 2017.
FROTA, Maria Paula. A singularidade na escrita na escrita tradutora: linguagem e subjetividade nos estudos da tradução, na linguística e na psicanálise. São Paulo: Pontes, 2000.
ISER, Wolfgang. Os atos de fingir ou o que é fictício no texto ficcional. In: COSTA LIMA, Luiz (Org.). Teoria da literatura em suas fontes, v. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, p. 955-987.
LODGE, David. A arte da ficção. Trad. Guilherme da Silva Braga. Porto Alegre, RS: L&PM, 2010.
NETTO, Modesto Carone. Metáfora e montagem. São Paulo: Perspectiva, 1974.
PAULINO, Graça; WALTY, Ivete. Leitura literária: enunciação e encenação. In: MARI, Hugo; WALTY, Ivete; VERSIANI, Zélia (Orgs.). Ensaios sobre leitura. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 2005. p.138-154.
RIVERA, Tania. O avesso do imaginário: arte contemporânea e psicanálise. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
SARTRE, Jean-Paul. O imaginário: psicologia fenomenológica da imaginação. São Paulo: Ática, 1996.
TEZZA, Cristovão. A tradutora. Rio de Janeiro: Record, 2016.