Resistir ao apagamento
Testemunhando as existências confinadas de Stela do Patrocínio e Rogério Duarte
Résumé
Este artigo se propõe a ler duas obras que procuram organizar na linguagem a experiência do confinamento, buscando refletir sobre as possibilidades de desdobrá-la na contemporaneidade como uma modalidade de resistência. Trataremos aqui de Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, organização dos depoimentos de Stela do Patrocínio, colhidos entre 1986 e 1989, durante os anos finais de sua internação na antiga Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, lançado em 2001; e A grande porta do medo, testemunho de Rogério Duarte sobre seu período como prisioneiro do regime militar brasileiro em abril de 1968, que só viria a aparecer em livro já neste século. Por meio da reflexão do filósofo francês Étienne Souriau, relida recentemente em livro por David Lapoujade, abordaremos as possibilidades de resistência operadas pela comunidade ou por indivíduos que se dispõem a servir de intermediários para a presentificação das experiências traumáticas de outros seres.