Espectros do feminicídio em Cometerra, de Dolores Reyes
Résumé
De acordo com o Observatório de Igualdade de Gênero da América Latina e do Caribe, em 2021, o Brasil, o México e a Argentina, nesta ordem, lideram os índices de feminicídio em números absolutos. A literatura latino-americana contemporânea vem abordando esse tipo de crime em suas narrativas. Desse modo, examina-se, neste artigo, a representação do feminicído em Cometerra, da escritora argentina Dolores Reyes, de 2019, publicado em português em 2022. Em linhas gerais, Cometerra é o apelido de uma menina, órfã de mãe, que foi brutalmente assassinada, e que consegue rastrear pessoas desaparecidas após comer a terra em que a pessoa pisou antes de desaparecer. Trata-se, no romance, de vítimas de uma variedade de violências, incluindo o feminicídio. Para fins de apoio teórico, são cotejados com Cometerra considerações acerca da violência de gênero e do feminicídio – atravessadas pela crítica ao patriarcado - levadas a cabo por Rita Laura Segato, Marcela Lagarde y de Los Ríos, Esther Pineda e Diana Russell, assim como a análise da espectralidade por Jacques Derrida e Alberto Ribas-Casasaya. Nas considerações finais é discutido, tendo como base o romance analisado, como a estrutura patriarcal arraigada na sociedade latino-americana, marcada por uma necropolítica, é responsável pela violência de gênero.