Rostos pintados de preto – algumas reflexões iniciais
Abstract
No Calibã e a bruxa, Silvia Federici mobilizou esses dois personagens da peça A tempestade, de Shakespeare, de 1610-11, por estar interessada nas relações entre a “Caça às bruxas” e a descoberta do Novo Mundo. Então, também pensando em questões coloniais, sobretudo a partir do imaginário náutico que essa peça movimenta, com o piche e o alcatrão, me aproximo da festa de Netuno, que transcorre a bordo de um navio, na passagem pela linha do Equador, no meio do romance contemporâneo brasileiro Opisanie Świata, de Veronica Stigger. E procuro elaborar algumas reflexões iniciais sobre rostos que foram pintados de preto, com graxa e breu. Como essa festa se tratava do “Rito de passagem da linha do Equador”, apresento a leitura que o historiador Jaime Rodrigues fez de relatos desse ritual, com o método morfológico de Ginzburg, que estudou a “Caça às bruxas”. Assim, busco discutir, numa perspectiva crítica, o rosto “tisnado”, já que o piche e o alcatrão, i.e., o breu, eram usados na Europa, pelo menos desde o século XII, como elemento de punição e tortura pública, e penso nesses indícios para coletar histórias do breu e do que denomino breu$il, significantes que relaciono ao racismo no Brasil.