CALL FOR PAPERS: DOSSIÊ “LITERATURA E RESISTÊNCIA” OUT.-DEZ (2020)

2020-07-31

The sphericity of our home, with its twists and turns, evolutions and revolutions, seems to wake us up every day to say that nothing stays still in space and time. By creating and developing the written language, we tried to set time fixed in one place, but writing invented History, and, as the proverb goes, "a tale never loses in the telling". Nothing in human experience is fixed in time. Over the centuries, many metaphors have been used to translate this dynamic of nature and culture ... twenty-five centuries ago, Heraclitus of Ephesus would argue that "No man ever steps in the same river twice, for it's not the same river and he's not the same man". In the mid-nineteenth century, Marx, and Engels, reflecting on historical dynamics, claimed that "All that is solid melts into air". Closer to us, a prophet from Ceará, known as Antônio Conselheiro, leading his religious community, prophesied that "the hinterland would become the sea, and the sea would become the hinterland". And, concluding these inferences, the voice of activist and philosopher Angela Davis translates the version of this dynamic into contemporary times: “When a black woman moves, the whole structure of society moves with her.”

In a world ever-revolving, we like landmark dates… in 2020, we remember the 190 years of Luís Gama, the 130 years of Oswald de Andrade, the 110 years of Patrícia Galvão - Pagu -, the 70 years of Eliane Potiguara and, still very young, 40 years of Djamila Ribeiro… And what do these names hold in common? Undoubtedly, the fact that they gave a literary form to the perpetual motion of Humanity on the way to humanization. Although different in gender, ethnicity, and even social class status, they are writers who decided to fight against those who, through ideological tricks, try to make us believe that History is over, that everything is and will be as it stands now… (The most obstinate ones even go back to inquisitorial times, disseminating that there are only two dimensions in the cosmic space where we live.)

It is the literary art of resistance that inspires this dossier by Entrelaces Review of Literary studies. We invite researchers to present their work on the theme “Literature and Resistance”. We call for literary criticism from the most diverse perspectives to reason about the poetic, fictional, theatrical and essayistic legacy that we inherited and on which we depend to understand the poetic sense of what Carlos Drummond de Andrade called “the present life”, a presupposition for that we look at the aesthetics of the future, where we hope to always go “hand in hand”.

Entrelaces Review of Literary studies thus hopes to assert itself as an academic space for dynamism and cultural resistance. We hope to interweave the threads of this legacy of literary resistance to the points of plural critical reflection.

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A esfericidade de nossa morada, com suas voltas, revoltas, evoluções e revoluções, parece que nos acorda todo dia para dizer que nada está parado no espaço e no tempo. Tentamos fixar o tempo, inventando a escrita, mas a escrita inventou a História e, como diz o povo, quem conta um conto, aumenta um ponto. Não há nada na experiência humana que se fixe no tempo. Ao longo dos séculos, muitas metáforas foram usadas para traduzir essa dinâmica da natureza e da cultura… Heráclito de Éfeso, há vinte e cinco séculos, refletia que não é possível banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois as águas se renovam constantemente. Bem mais recentemente, em meados do século dezenove, Marx e Engels, refletindo sobre a dinâmica histórica, afirmavam que tudo que é sólido se desmancha no ar. Aqui mais perto de nós, também um profeta cearense, conhecido como Antônio Conselheiro, à frente de sua comunidade religiosa, profetizava que o sertão ia virar mar, e o mar ia virar sertão. E, arrematando essas inferências, a voz da ativista e filósofa Angela Davis traduz a versão dessa dinâmica nos termos da contemporaneidade: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.”

Num mundo em que tudo gira, gostamos de datas redondas… Neste ano de 2020, rememoramos os 190 anos de Luís Gama, os 130 anos de Oswald de Andrade, os 110 anos de Patrícia Galvão – Pagu –, os setenta anos de Eliane Potiguara e, ainda bem jovem, os quarenta anos de Djamila Ribeiro… E que têm em comum esses nomes? Sem dúvida, o fato de terem dado forma literária ao motoperpétuo da Humanidade, no percurso histórico de sua humanização. Diferentes quanto ao gênero, à etnia e mesmo à condição social de classe, trata-se de escritoras e escritores que decidiram resistir aos que, por artimanhas ideológicas, tentam fazer crer que a História acabou, e que assim tudo é e será como sempre foi… Os mais renitentes chegam a regredir aos tempos inquisitoriais, espalhando por aí que só há duas dimensões no espaço cósmico onde vivemos.

É a arte literária da resistência que inspira este dossiê da Revista Entrelaces. Convocamos pesquisadoras e pesquisadores a apresentar seu trabalho sobre o tema “Literatura e Resistência”. Conclamamos a crítica literária, sob os mais diversos olhares, a refletir sobre o legado poético, ficcional, teatral e ensaístico que herdamos e do qual dependemos para entender o sentido poético do que Carlos Drummond de Andrade chamou de “a vida presente”, pressuposto para que nos debrucemos sobre a estética do futuro, para onde esperamos ir sempre “de mãos dadas”.

A Revista Entrelaces espera, assim, confirmar-se como espaço acadêmico de dinamização e resistência cultural. Esperamos entremear os fios desse legado de resistência literária aos pontos da reflexão crítica plural, contando com quem não dá ponto sem nó e nem perde o fio histórico da meada.

Prof. Dr. José Leite de Oliveira Junior (UFC)

Profa. Dr. Débora de Souza (UFBA)

Sua colaboração deve chegar até esta data: 30/09/20.