As vozes narrativas em Elena Ferrante
um encontro com a alteridade de Emmanuel Lévinas
Resumo
Muitos podem ser os caminhos percorridos a fim de se alcançar a compreensão sobre a importância de uma sociedade mais ética. Neste artigo, pretende-se analisar a construção das vozes narrativas e a alteridade levinasiana na escrita de Elena Ferrante. Ao escrever sobre os inconvenientes da maternidade, a autora se fixa no realismo particular de suas protagonistas-narradoras, renunciando a visão geralmente mitificada da mulher-mãe e, por isso, opta por não apaziguar o leitor por meio de uma escrita idealizada sobre o tema. Para tanto, apoiando-se na noção de rosto do filósofo Emmanuel Lévinas, discorre-se sobre a urgência da literatura como via de alcance da ética humanitária, ainda que haja controvérsias sobre essa indispensabilidade da ficção na vida em sociedade. Longe da obrigação de ser encarada como utilitária, embora sejam notórias as reflexões que provoca, a literatura e, mais especificamente, a escrita de textos incômodos, não raramente, desperta a compaixão dos leitores tornando-se, então, essenciais ao contribuírem para o alcance da alteridade, quando estes passam a compreender que é na mimesis onde mora nossa capacidade de não apenas enxergar outras perspectivas, mas de estar com o outro em sua jornada, ainda que pouco suas causas ou experiências se assemelhem com as nossas.