Feitiços audiovisuais de uma travesti preta
a estética-política (en)cantada dos videoclipes de Linn da Quebrada
DOI:
https://doi.org/10.36517/psg.v14iesp.85320Resumo
Autonomeada travesti preta e artista multimídia, Linn da Quebrada produz na cena contemporânea brasileira obras audiovisuais que denunciam e reagem a opressões de um cistema – sistema cissexista (VERGUEIRO, 2015) – heteronormativo branco. Para Linn da Quebrada, sua arte age como um feitiço na materialização de novos modos de pensar/sentir e na criação de fissuras nos imaginários de uma cisgeneridade racista, heterossexista e patriarcal. Esta pesquisa conjura reflexões sobre a estética-política (en)cantada da artista e entende seus videoclipes como feitiços audiovisuais, atuantes na promoção de vida trans e negra no contexto brasileiro. Aqui o feitiço é compreendido como uma tecnologia insurgente de intervenção na realidade social acionada por mulheres negras (RAMOS, 2020) – ou, de modo mais amplo, mulheridades – para enfrentar a plantação de mortandade do desencanto colonial (SIMAS; RUFINO, 2020). Absolutas (2017), blasFêmea | Mulher (2017), Serei A (2017) e Oração (2019) são as obras analisadas, com uma perspectiva metodológica pensada a partir do tripé performance-espaço-tempo (SOARES, 2012) e de uma abordagem interseccional (CRENSHAW, 2002; COLLINS, 2017). Com seus feitiços audiovisuais, Linn da Quebrada fortalece pessoas negras trans, queer (ou cuir numa torção abrasileirada do termo anglófono) e dissidentes sexuais e de gênero em seus processos cotidianos de (r)existências (AMORIM, 2019) e de cura de feridas traumáticas coloniais (KILOMBA, 2019). Os trabalhos da artista, funcionam, então, como estratégias comunicativas, baseadas na constituição de vínculos, que articulam sons, imagens, palavras e corpos para criar memórias coletivas e possibilidades audiovisuais de vida preta e travesti no Brasil.
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