“Eles nascem para morrer”: uma análise psicossocial da problemática dos homicídios de jovens em Fortaleza

Autores

  • João Paulo Pereira Barros Universidade Federal do Ceará
  • Luis Fernando de Souza Benicio Universidade Federal do Ceará

Palavras-chave:

Homicídios, juventudes, análise psicossocial.

Resumo

Dados relativos à questão da violência urbana envolvendo jovens permitem considerar a escala de homicídios desse segmento um dos principais dispositivos de controle social de populações e territórios pauperizados e estigmatizados, tornando-se um dos principais desafios ético-político no cenário brasileiro. A cidade de Fortaleza dispõe de indicadores preocupantes no que concerne ao número de homicídios envolvendo segmentos juvenis, apresentando maior índice de homicídios na adolescência (IHA) entre as capitais brasileiras. Diante disso, este estudo objetiva problematizar o fenômeno dos homicídios de jovens na cidade de Fortaleza sob o ponto de vista psicossocial, tomando-o como um analisador das implicações das relações de poder e dos modos de subjetivação contemporâneos no cotidiano das margens urbanas brasileiras. A problematização se desenvolverá em diálogos da Psicologia Social com autores como Foucault, Deleuze, Guattari e Agamben. São postos em análise processos de sujeição de juventudes pobres no Brasil pela sua associação com o risco e a violência, bem como os processos psicossociais produtores de jovens “indignos de vida” a quem se atribui a pecha de “envolvidos”.

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Biografia do Autor

João Paulo Pereira Barros, Universidade Federal do Ceará

Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), na linha "Processos psicossociais e vulnerabilidades sociais". Doutor em Educação, mestre e graduado em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Especialista em Saúde Mental pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Foi professor efetivo do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), na área de Psicologia e Saúde Coletiva. Tem experiência nas áreas de Psicologia Social/Psicologia Comunitária, Psicologia Escolar/Educacional e no campo da Saúde Coletiva/Saúde Mental. Lider do Grupo de Pesquisas e intervenções sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação (VIESES/UFC), cadastrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPQ e como Programa de Extensão do Departamento de Psicologia da UFC. Membro do Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisas sobre a Criança (NUCEPEC-UFC). Dedica-se aos seguintes temas, a partir de interlocuções com autores como Foucault, Deleuze, Guattari e outros que seguem caminhos investigativos semelhantes: violência e modos de subjetivação infantojuvenis na contemporaneidade; biopolítica, governamentalidade e processos de criminalização e extermínio de jovens no Brasil; direitos humanos, práticas sociais/institucionais e micropolítica de processos de in/exclusão; pesquisa-intervenção e cartografia de processos psicossociais contemporâneos; violência escolar e bullying como dispositivo analisador; violência infantojuvenil e os nexos entre medicalização e judicialização da vida; formação e intervenção da psicologia em políticas sociais, em especial na atenção primária à saúde, na assistência social e na educação.

Luis Fernando de Souza Benicio, Universidade Federal do Ceará

Psicólogo com formação em Psicologia Hospitalar (Pró-Reitoria de Extensão/UFC - 2012). Atualmente, faz especialização em Saúde da Família (UNILAB) e mestrado acadêmico em Psicologia (UFC). É pesquisador-bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Integra o grupo de pesquisas e intervenções sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação (VIESES-UFC) que é cadastrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPQ. Supervisona o projeto de extensão Re-Tratos da juventude, atuando na formação de profissionais por meio da construção de dispositivos de análise coletiva e intervenção micropolítica, de caráter transversal e intersetorial, em torno dos processos de subjetivação e dos direitos humanos de juventudes em territórios da cidade de Fortaleza-CE. Participa da Comissão Organizadora do projeto Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS). Desenvolveu um trabalho de Apoio Institucional na Rede de Atenção Psicossocial de Fortaleza (Secretaria Municipal de Saúde) e foi colaborador do projeto close certo - Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais (Ministério da Saúde). Áreas de atuação e pesquisas: Direitos Humanos; Políticas Públicas; Saúde Coletiva; Saúde da Família; Redução de Danos; Juventudes e HIV/AIDS.

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Publicado

2017-10-24

Como Citar

Barros, J. P. P., & Benicio, L. F. de S. (2017). “Eles nascem para morrer”: uma análise psicossocial da problemática dos homicídios de jovens em Fortaleza. Revista De Psicologia, 8(2), 34–43. Recuperado de http://periodicos.ufc.br/psicologiaufc/article/view/19313

Edição

Seção

Artigos