Como Pensar o Racismo: o paradigma colonial e a abordagem da sociologia histórica

Autores

  • Karl Monsma Professor Associado de Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pós-doutorado em Sociologia (USP) e em Antropologia Social, no Museu Nacional (UFRJ)

Palavras-chave:

Racismo, Colonialismo e Pós-colonialismo, Sociologia Histórica

Resumo

As interpretações predominantes do racismo hoje integram o que chamo de“paradigma colonial”, a idéia de que o racismo se originou com a expansão colonial da Europa e a dominação dos europeus sobre os povos do resto do mundo. Vários casos empíricos de dominação racial ou de genocídio apresentam desafios para esta abordagem, especialmente a racialização de povos europeus por outros europeus e o racismo praticado por povos no resto do mundo. O artigo desenvolve o argumento de que muitos desses casos podem ser compreendidos dentro de uma versão expandida do paradigma colonial, salientando a subordinação dos povos da periferia da Europa, a expansão de impérios para as terras contíguas de outros povos, a conquista de impérios coloniais por alguns países não europeus,ou ainda formas de colonialismo interno. Entretanto, outras instâncias do racismo não podem ser explicadas dentro do paradigma colonial, por exemplo o antissemitismo europeu ou o racismo contra os povos romani (“cigano”), que já existiam antes da expansão imperial da Europa, ou ainda vários casos de dominação ou extermínio racial realizados por povos colonizados contra outros povos colonizados. O artigo desenvolve o argumento de que o racismo deve ser entendido como a dominação sistemática de um povo, ou grupo étnico, por outro, em conjunto com uma ideologia que essencializa o grupo subordinado como intrinsicamente inferior. A expansão européia é a principal força por trás do racismo no mundo moderno, mas não é a única origem do racismo.

 

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Publicado

2017-06-29

Como Citar

Monsma, K. (2017). Como Pensar o Racismo: o paradigma colonial e a abordagem da sociologia histórica. Revista De Ciências Sociais, 48(2), 53–82. Recuperado de http://periodicos.ufc.br/revcienso/article/view/19494