O Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (1968-1972): lutas sociais, pensamento crítico e reconhecimento acadêmico
Palavras-chave:
Ciências Sociais, Ditadura Militar, Pensamento Crítico, Movimento EstudantilResumo
O artigo tem como objetivo refletir sobre a minha experiência como aluna da primeira turma do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (1968-1972) que hoje completa cinquenta anos. Procuro ressaltar alguns traços, gerais e específicos, que marcaram a nossa geração, caracterizado como um tempo pautado por lutas sociais e pelo fomento do pensamento crítico, pelo empenho no reconhecimento institucional e a tentativa de entender as especificidades da sociedade brasileira. Dessa perspectiva, mesmo correndo os inevitáveis riscos de idealizar o passado, chamo a atenção para os seguintes aspectos: a ideia de uma universidade concebida como lugar de se fazer amigos(as), o peso da reflexão dos clássicos fundadores das Ciências Sociais- Marx, Weber e Durkheim mesmo quando tais pensadores não integravam a estrutura curricular. Uma formação universitária que não se restringia à sala de aula e à pesquisa de campo, disputava espaço com as leituras em grupos de estudos informais extracurriculares, adentrava nas passeatas contra a ditadura militar e nas manifestações de rua por um ensino de melhor qualidade e se fazia presente nas atividades culturais. Chamo também a atenção para o incentivo à leitura e à pesquisa de campo, possibilitando-nos novas indagações, a busca por “novas praias e novos cerrados”, com o objetivo de cursar o mestrado ou uma especialização e dar continuidade à nossa formação. Enfim, uma formação indissociável do viver em sociedade em meio a uma conjuntura na qual cursar ou ensinar Ciências Sociais era considerado um ato perigoso e subversivo.
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