A melancolia da esquerda resignada
Reflexões sobre reformismo e neoliberalismo
DOI:
https://doi.org/10.36517/rcs.53.1.a02Palavras-chave:
Esquerda, Melancolia, Neoliberalismo, Pós-guerra, ReformismoResumo
Apresentamos um diagnóstico, sugerido pela cientista política Jodi Dean, segundo o qual a categoria psicanalítica de “melancolia” pode ser usada para interpretar a resignação de determinados segmentos da esquerda assujeitados ao capitalismo ocidental. Então, o assumimos como referência de análise para ensaiar, em associação ao campo da economia política, uma interpretação histórica de três momentos da recente trajetória da luta de classes — a ascensão do Estado de bem-estar no pósguerra, sua queda e o programa neoliberal de austeridade —, refletindo sobre os lugares que certa esquerda veio ocupando ao longo dos mesmos. Guiamo-nos pela hipótese segundo a qual as posições de “reformismo” socialdemocrata e de “neoliberalismo de esquerda” sejam exemplos de resignação, em graus variados, à estrutura capitalista e à ideologia dominante. Nosso objetivo é refletir sobre desafios para a assunção de uma concepção de mundo revolucionária na política, introduzindo o conceito psicanalítico de melancolia como uma referência teórica relevante para análises nesta temática — debate que também se situa no campo da subjetivação política.
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