UMA COLÔNIA NO BRASIL: INTERSECÇÕES ENTRE O RELATO DE VIAGEM, A AUTOBIOGRAFIA E A AUTORIA FEMININA
Abstract
Em 1857, uma época em que as mulheres se contentavam, ou eram obrigadas a dedicarem-se exclusivamente a vida familiar, a sexagenária Marie van Langendonck prefere tecer sua história. Trata-se de uma ilustre dama, poetisa e escritora que descreve suas experiências em Uma Colônia no Brasil, livro pouco conhecido no meio acadêmico. Publicado em 1862, na Bélgica, o livro nos proporciona um relato das experiências de Marieem terras brasileiras, entre os anos 1857 e 1859, período em que residiu em uma colônia ao sul do país. Ainda que contivesse o subtítulo Relatos históricos, quando o livro foi publicado, ele foi avaliado pela crítica como um diário, sem validade histórica, contudo, à medida que se pesquisava sobre o gênero, algumas questões de natureza teórica foram levantadas, uma vez que, o relato de Marie extrapolava características capitais apontadas por Blanchot e Lejeune inerentes ao diário. Ainda, procura-se revelar como a reconstrução memorialística de Mme. van Langendonck converge a uma atitude de escrita própria, que ultrapassa as noções de gênero, de maneira que o espaço autobiográfico da obra está intrinsecamente ligada à condição de Marie como mulher, escritora e personagem em uma sociedade marcada por inúmeros preconceitos, que delimitavam a atuação da mulher.
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