O Coro de Sarajevo na mira do narrador
mito e ironia em Os velhos também querem viver, de Gonçalo M. Tavares
Resumen
Inserida na série “Estudos Clássicos”, a novela-poema Os velhos também querem viver (2014), do escritor português contemporâneo Gonçalo M. Tavares (1970), é uma reescritura da tragédia grega Alceste (c. 438 a. C), de Eurípides (c. 480-406 a. C). Ao resgatar o tema do sacrifício por amor até a morte, o autor transpõe o enredo trágico para um contexto de guerra, cuja história se passa em Sarajevo, entre 1992 e 1996, período no qual a cidade esteve sob o domínio do exército sérvio. Nessa reescritura trágica, chamam-nos a atenção o foco narrativo. Ao construir sua obra, o autor utiliza-se de um narrador intruso e irônico que faz diversas digressões, no intuito de emitir sua opinião sobre os fatos. Nessa perspectiva, este artigo tem por objetivo analisar – além dos aspectos do mito de Alceste – a construção desse narrador intruso, que ao longo da obra “interrompe” a narrativa para atacar, por meio da ironia, o Coro de Sarajevo.