Recordação e poesia: caminhos que se cruzam na obra de Casimiro de Abreu e Noémia de Sousa
Resumo
Neste artigo, examinaremos algumas das características românticas na poesia da escritora moçambicana Noémia de Sousa (1926-2002), sobretudo, Poemas da infância distante e Um dia, da obra Sangue Negro (2016), que dialogam com o poema Meus oito anos, d’ As primaveras (1859), de Casimiro de Abreu (1839-1860), poeta brasileiro. Nos três textos o eu lírico evoca lembranças infantis e paisagens da terra natal que nutrem a saudade e o desejo de retorno às origens. Embora os autores estejam geográfico e historicamente separados, observamos que suas recordações fazem parte de uma coletividade que pretende alcançar autonomia poética e contribuem com a construção do pensamento nacional. Para esta discussão, consideraremos Espaços da Recordação (2011) de Aleida Assmann, que nos faz repensar o significado da recordação e seus nexos com a identidade pessoal, a história e a nação, “Intertextualidade: A migração de um conceito”, artigo de Tania Carvalhal (2003), que amplia a discussão sobre memória e esquecimento, “Panorama das literaturas africanas de língua portuguesa”, de Maria Nazareth Soares Fonseca e Terezinha Taborda Moreira (2007), que destacam a importância da literatura brasileira no processo de independência da literatura moçambicana. A partir dessas aproximações, buscamos contribuir com os estudos comparatistas que visem aproximar Brasil e Moçambique.