Dossiê "Sobre a Melancolia. Estranhezas entre a Estética e a Política"

2024-11-27

Dossiê "Sobre a Melancolia. Estranhezas entre a Estética e a Política"

 

A presente chamada é um convite à publicação de trabalhos que dialoguem com o tema da Melancolia. Embora presente em alguns textos, nunca foi considerada como conceito ou tema essencial nos estudos comunicacionais. Ao mesmo tempo, parece estar presente em uma vasta produção, mesmo que não seja diretamente mencionada. A chamada busca instigar a pesquisadoras e pesquisadores produzirem textos que atravessem ou sejam atravessados pelo tema da Melancolia.

Um dos ensaios metapsicológicos de Sigmund Freud, seu texto “Luto e Melancolia”, escrito em 1915 e publicado em 1917, é dos mais discutidos, havendo já uma vasta revisão crítica produzida ao longo de mais de um século, encantando e desafiando autores no mundo todo a discuti-lo ainda hoje. No texto “Melancolia e Criação”, prefácio da tradução de Marilene Carone ao original alemão, a psicanalista Maria Rita Kehl destaca que o texto de Freud representou um avanço em relação à compreensão da psicose maníaco-depressiva. “Freud teve a elegância de se recusar a patologizar a inclinação de algumas pessoas excepcionais à criação artística” (KEHL, 2011, p. 30). 

O tema da “Estética da Melancolia” vai interessar a diferentes autores. A francesa Marie-Claude Lambotte fez uma espécie de genealogia da melancolia desde a Antiguidade para trazer uma reflexão que parte de Aristóteles, atravessa o século XIX com a obra do dinamarquês Soren Kierkegaard e está presente na literatura, nas artes visuais e em diferentes linguagens artísticas. A melancolia também foi uma preocupação em Walter Benjamin e Theodor Adorno e seguiu influenciando uma série de autores da tradição crítica.

Nos últimos anos, a partir da obra da filósofa norte-americana Judith Butler, tem surgido uma série de trabalhos sobre o caráter político da melancolia. A compreensão de que as novas formas de poder no capitalismo neoliberal só podem ser compreendidas a partir da capacidade que o poder atual tem de mobilizar afetos. A filósofa brasileira Carla Rodrigues, uma das tradutoras da obra de Butler, intitula “Melancolias” um dos capítulos do seu livro “O luto entre a clínica e política”. Em diálogo com Mark Fisher e Wendy Brown (mas também com Frantz Fanon e Lélia Gonzalez), vai pensar a melancolia assim no plural a partir de três formas: de esquerda, pós-colonial e hauntológica. “Trabalhar em torno da hauntologia a fim de tomá-la como instrumento para pensar a relação com o tempo e com o passado colonial que nos assombra foi o que me pôs a conversar com (os meus) fantasmas”. (Rodrigues, 2021, p. 92)

A melancolia é também tema de reflexões de Helena Vieira, artista trans e ativista queer, autora do texto “Melancolia e Conservadorismo: o brilho do Sol Negro” (2018). Helena nos alerta para o caráter ambivalente das interpretações sobre a melancolia. Se, por um lado, é vista diante de um cenário conservador. Seria um enorme equívoco reduzi-la a um enquadramento reacionário. Um afeto capaz de produzir a crítica do presente a partir de uma potência imaginativa. Parece sempre haver um lugar para a imaginação na melancolia.

Essa profusão de textos de diferentes matizes, enquadramentos e abordagens mostra o quanto a melancolia segue sendo um tema desafiador e instigante. A sugestão de dois eixos temáticos principais não esgota a possibilidade plural das abordagens, mas pode ajudar na orientação do encaminhamento dos textos. Não são eixos excludentes nem totalizantes. 

  1. Estética da Melancolia. Trabalhos que abordem a produção estética atravessada pela melancolia e que dela seja expressão. ; 
  2. Melancolia como afeto na política. A partir de autoras e autores que promovem reflexões sobre o potencial político da melancolia e suas repercussões em diferentes campos e aspectos da vida política;

Editor Convidado

Luis Celestino de França Júnior - UFCA

 

Calendário

Prazo de submissão: 30/06/2025

Prazo de avaliação: 31/08/2025

Prazo de publicação: até final de novembro de 2025

 

Referências

 

Kehl, Maria Rita. Melancolia e Criação. In: Freud, Sigmund. Luto e Melancolia. Trad. Marilene Carone. São Paulo, Cosac & Naify, 2011. 

Lambotte, Marie-Claude. Estética da Melancolia. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2000.

Rodrigues, Carla. O luto entre clínica e política. Belo Horizonte: Autêntica, 2021.

Vieira, Helena. Melancolia e conservadorismo: o brilho do Sol Negro. São Paulo: Revista Cult, janeiro de 2018. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/helena-vieira-melancolia-conservadorismo/