O êxtase da verdade
realidade e imaginação em Fitzcarraldo e conquista do inútil
Résumé
O presente artigo realiza uma análise comparativa entre duas obras distintas mas complementares de Werner Herzog, o filme Fitzcarraldo de 1982 e o livro Conquista do Inútil de 2004. À primeira vista, o filme e o livro seguem um modo narrativo convencional, filme de aventura e diário de viagem, respectivamente, e se operam a partir de temas comuns como o contraste entre civilização e natureza, a hibridização entre realidade e imaginação, mundo objetivo e subjetivo. Mas assim como Fitzcarraldo não pode ser considerado um filme comercial convencional, o livro Conquista do Inútil está longe de se configurar como um relato linear sobre a experiência das filmagens. Ao contrário, o livro lança mão de uma linguagem visual e evocativa, e revela a visão pessoal de Herzog sobre a experiência na selva, o contato com os índios e os animais, tudo encadeado em uma estrutura textual associativa que evoca uma lógica semelhante à desordem dos pensamentos. O cotejo proposto oscila entre um exame das convergências entre aspectos mais gerais das obras comparadas, e análises mais detidas de cenas e passagens particulares. Como iremos sugerir, a saga de Fitzcarraldo no filme de 1982 é um espelho da saga de Werner Herzog como cineasta-autor, para quem o cinema opera como acontecimento, e não como representação.
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