Parteiras tradicionais da Amazônia amapaense: capacitação, incorporação de saber e resistência cultural

Autores

  • Iraci de Carvalho Barroso Universidade Federal do Amapá
  • Antonio Cristian Saraiva Paiva Universidade Federal do Ceará

Palavras-chave:

Parteiras tradicionais, Capacitação, Incorporação de saber, Resistência cultural

Resumo

O presente artigo é uma análise socioantropológica que problematiza a questão da capacitação de parteiras tradicionais, discutindo as incorporações de saber médico e resistência cultural na prática de partejar. O estudo compõe-se de uma abordagem qualitativa, com narrativas de 25 parteiras tradicionais, periféricas, remanescentes quilombolas e indígenas, que se configuram como interlocutoras deste estudo e entrevistas com 10 profissionais da área biomédica. As conclusões apontam para as contradições, as conquistas e problematiza o reconhecimento das parteiras tradicionais. Nessa relação, tem-se como conquistas o fato da parteira ser cadastrada em programa estadual; participar dos cursos e treinamentos; receber o diploma, o “kit parteira” e ser incluída no sistema de pagamento da bolsa – elementos de reafirmação identitária e de reconhecimento da legitimidade da parteira. Por outro lado, as contradições se expressam nas tensões entre a ampliação da função social da parteira, que após a capacitação é chamada a intervir na promoção da saúde da mulher, porém sem reconhecimento como trabalhadora da saúde.

Biografia do Autor

Iraci de Carvalho Barroso, Universidade Federal do Amapá

Professora da Universidade Federal do Amapá, Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará

Antonio Cristian Saraiva Paiva, Universidade Federal do Ceará

Professor Associado do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará. Coordenador do Núcleo de Pesquisas sobre Sexualidade, Gênero e Subjetividade (NUSS/UFC). 

Referências

ABREU, Isa Paula Hamouche. Trabalhando com parteiras tradicionais: a experiência do Ministério da Saúde no período de 2000 a 2004. (Pós-graduação em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde) - Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.

AMAPÁ. Projeto resgate e valorização das parteiras tradicionais do estado do Amapá. Secretaria Estadual de Saúde. Macapá, 1998.

_____. The institucionalizacion SDPA. Amapá: sustentainable in the 21ª century document is produced by the governor of Amapá. Macapá, 1999.

BARROSO, Iraci de C. “Capacitação” de parteiras tradicionais do Amapá: tensões entre incorporação de saber médico e resistência cultural na prática de partejar. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2017.

_____. Saberes e prática das parteiras tradicionais do Amapá: histórias e memórias. 2001. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Campinas, Campinas, 2001.

BRASIL. Parto e nascimento domiciliar assistidos por parteiras tradicionais: o Programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais e experiências exemplares. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília, DF, 2012.

_____. Livro da parteira tradicional. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília, DF, 2a edição, 2012. (1a. edição: 2000).

CAPIBERIBE, Janete. Os anjos da floresta. In: JUCA, L.; MOULIN, N. Parindo um mundo novo – Janete Capiberibe e as parteiras do Amapá. São Paulo: Cortez, 2002.

CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 4. ed. São Paulo: UNESP, 2011.

FLEISCHER, Soraya Resende. Parteiras, buchudas e aperreios: uma etnografia do atendimento obstétrico não oficial na cidade de Melgaço, Pará. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.

_____. Treinamentos de Deus e treinamentos da terra: parteiras e cursos de capacitação em Melgaço, Pará. Revista Mediações, Londrina, v. 11, n. 2, p. 225- 246, jul./dez. 2006.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

JORDAN, Brigitte. Cosmopolitical obstetrics: some insights from the training of traditional midwives. Soc. Sci. Med., London, v. 28, p. 925-944, 1989.

MARTINS, Heloísa H. T. de S. Metodologia qualitativa de pesquisa. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 289-300, maio/ago. 2004.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Parteiras leigas: uma declaração conjunta. Genebra, 1992.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Parteiras leigas: uma declaração conjunta. OMS/FNUAP/UNICEF. Genebra, 1995.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Assistência ao parto normal: um guia prático. Relatório de um grupo técnico. Genebra, 1996. Disponível em abcdoparto.com.br. Acesso em: acesso em: 6 abril, 2014.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Maternidade segura - Higiene in: Assistência ao parto normal: um guia prático. Genebra, 2006. Disponível em abcdoparto.com.br. Acesso em: 4 set. 2014.

PINTO, Maria Celeste. Filhas da Mata: práticas e saberes de mulheres quilombolas na Amazônia Tocantina. Belém: Açaí, 2010.

RULLAN, F. O desenvolvimento sustentável no Amapá. Centro de Documentação do Terceiro Mundo, Amapá, 2000.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. In: SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez Editora, 2006, p. 93-135.

_____. Uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. In: SANTOS, Boaventura de Sousa (Org.). Conhecimento prudente para uma vida decente: ‘um discurso sobre as ciências’ revisado. São Paulo: Cortez, 2006b, p. 777-814.

SILVA, Alzira Nogueira da. Pegando vidas nas mãos: um olhar etnográfico sobre os saberes e as práticas das parteiras tradicionais do Amapá. 2005. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005.

SILVA, Ivanete Amaral. Parteiras tradicionais do Amapá. In: FUJIWARA, L. M.; ALESSIO, N. L. N.; FARAH, M. F. S. (Org.). 20 Experiências de gestão pública e cidadania. São Paulo: Programa Gestão Pública e Cidadania, 1999, p. 3-12.

TORNQUIST, C. S. Parto e poder: o movimento pela humanização do parto no Brasil. 2004. Tese (Doutorado em Antropologia) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004, p. 263.

Downloads

Publicado

2019-03-01

Como Citar

Barroso, I. de C., & Paiva, A. C. S. (2019). Parteiras tradicionais da Amazônia amapaense: capacitação, incorporação de saber e resistência cultural. Revista De Ciências Sociais, 50(1_Mar/Jun), 313–361. Recuperado de http://periodicos.ufc.br/revcienso/article/view/39843

Edição

Seção

Especial: O Amapá como desafio sociológico