O Jornal Nacional e o rito de destituição de Dilma Rousseff
Palabras clave:
Jornal Nacional, Dilma Roussef, golpe, impeachment, naçãoResumen
A sociologia trata correntemente dos ritos de instituição através dos quais os indivíduos se tornam estatutariamente depositários do poder do Estado (Bourdieu, 2014). Mas o golpe de 2016 no Brasil oferece uma rara ocasião de analisar um rito de destituição em que diferentes instâncias do poder estatal convergiram no propósito de esvaziar o capital simbólico da Presidenta da República eleita em 2014. Se o lugar institucional do Golpe foi o plenário das duas casas do Congresso, seu principal nicho simbólico foi a bancada do Jornal Nacional (JN). Seguindo os passos decisivos da fase final do longo rito de destituição, analisamos cinco edições do JN, selecionadas em função da relevância para o propósito da pesquisa, de reconstituir analiticamente a narrativa de desconstrução da autoridade universal de Dilma Roussef enquanto Presidenta. São elas: a de 04 de março, dia da condução coercitiva de Lula determinada por Sérgio Moro; a de 16 de março, quando foi divulgada a gravação de uma conversa telefônica entre Dilma e Lula a respeito da nomeação deste último como Ministro da Casa Civil; a de 18 de abril, data da votação na Câmara dos Deputados que autorizou a abertura do processo para o afastamento da Presidenta; a de 12 de maio, dia da saída de Dilma e da posse de Temer como presidente interino; e a de 31 de agosto, quando o senado aprovou o afastamento definitivo da Presidenta. Utilizamos, para tanto, a análise de estrutura, (Barthes, 2003) buscando evidenciar o modo como se constitui hoje o monopólio social da ideia de “nação”, uma vez que um dos pólos da disputa costuma ser apresentado como baluarte do “interesse nacional”, enquanto na outra ponta do espectro político, os atores são retratados pelo JN como particularistas, ligados a interesses partidários e criminosos.
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