Chamada Especial - (Des)Igualdade, Diversidade e Inclusão

REVISTA CONTEXTUS - CHAMADA: SELEÇÃO DE ARTIGOS PARA NÚMERO ESPECIAL

v. 22, Seção Especial, 2024.

(Des)Igualdade, Diversidade e Inclusão: Abordagens Organizacionais e Contábeis

 

Organização:

Prof. Carlos Adriano Santos Gomes Gordiano (Universidade Federal do Ceará)

Prof. João Paulo Resende de Lima (University of Glasgow)

Profa. Sandra Maria Cerqueira da Silva (Universidade Estadual de Feira de Santana; Faculdade Anísio Teixeira)

 

Introdução e Objetivos:

A discussão sobre diversidade e inclusão na pesquisa contábil se iniciou nos periódicos de língua inglesa na segunda metade da década de 1980 com trabalhos como o de Hopwood (1987) que introduz a relação entre gênero e Contabilidade, o de Burrell (1987) discutindo a negação da sexualidade na constituição da contabilidade, enquanto profissão e campo de conhecimento, e o de Tinker e Neimark (1987) que discute a exploração das mulheres por parte das organizações. Desde então a comunidade acadêmica em Contabilidade tem tratado as questões relacionadas a diversidade e inclusão de maneira mais ampla e mais profunda, dando a oportunidade a múltiplas vozes silenciadas serem finalmente ouvidas.

Dentre os trabalhos mais recentes podemos observar a construção de algumas linhas específicas dentro da temática. Haynes (2017), por exemplo, destaca os diversos avanços construídos na discussão crítica acerca da temática de gênero e aponta avenidas pelas quais a pesquisa de gênero pode avançar. Já Rumens (2016) e Ghio, McGuigan e Powell (in press) reforçam a crítica de Burrell (1987) sobre o silêncio da contabilidade na discussão sobre sexualidade e discutem a importância de compreender diferentes nuances dos efeitos da heteronormatividade na contabilidade. Annisette e Prasad (2017) reforçam a importância de entender como a Contabilidade (re)produz as desigualdades raciais.

A comunidade acadêmica contábil brasileira tem se mostrado, nos últimos anos, engajada no entendimento e discussão dos diversos aspectos de diversidade e inclusão. Exemplos desse interesse são vistos nas teses e dissertações defendidas nos programas de pós-graduação da área, a criação do Coletivo de Contábil de Inclusão e Diversidade - COLID, da área temática Diversidade e Inclusão no Contexto Organizacional e Contábil – DICOC, no congresso da ANPCONT e da área Diversidade nas Organizações no Congresso USP de Contabilidade, das comissões de diversidade em conselhos regionais de Contabilidade, etc.

De maneira semelhante, a comunidade em administração e estudos organizacionais tem se empenhado na discussão e análise crítica das (des)igualdades nos mais variados tipos de organização. Nesse sentido, trabalhos como o de Joan Acker (1990; 2006) são marcos teóricos importantes na discussão e mostram como as organizações (re)produzem por meio de práticas e normas – formais e informais – as diversas desigualdades e hierarquias sociais.

Vale ressaltar ainda o empenho de autores e autoras brasileiras – como Lélia González, Helena Hirata, Luiza Bairros, Beatriz Nascimento, Renan Quinalha, Richard Miskolci, Larissa Pelúcio, Djamila Ribeiro, Carla Akotirene, Juliana Teixeira, Letícia Nascimento, Sílvio Almeida, Rita Segato, Maria Lugones, dentre outras, outres e outros – de diferentes campos de conhecimento que contribuíram e contribuem para o entendimento do nosso complexo e desigual contexto brasileiro.

Visando avançar as discussões existentes a presente chamada convida a comunidade acadêmica Brasileira de administração, contabilidade e estudos organizacionais a submeter seus trabalhos acerca das temáticas de diversidade e inclusão.

 

Grandes temas de interesse e modalidades:

Entendemos que a expressão “diversidade e inclusão” ainda se encontra em delineamento, assim, a chamada abrange diversas temáticas e iniciativas. A lista a seguir ilustra – mas não limita – algumas possibilidades de pesquisa:

  • Expressões de gênero no campo contábil e de gestão
  • Diversidade e inclusão sexual (orientação sexual, identidades sexuais, pessoas LGBTQIAP+) nas organizações e na contabilidade
  • Raça e etnia e interface organizacional e contábil
  • Ações afirmativas, diversidade e políticas de reparação
  • Políticas de inclusão e diversidade nas organizações contábeis
  • O papel da contabilidade na (re)produção e combate às desigualdades
  • A relação entre Contabilidade e Etarismo
  • Inclusão de pessoas com deficiência nas organizações contábeis
  • Mobilidade social
  • Uso da Contabilidade por movimentos sociais e de resistência
  • Construção / reprodução do corpo produtivo e exploração humana e Contabilidade
  • Experiências de grupos não-hegemônicos na profissão e academia contábil
  • Estereótipos da profissão contábil
  • Processos históricos de exclusão/marginalização na Contabilidade
  • Influência da cisnormatividade na profissão contábil
  • Influência da heteronormatividade profissão contábil
  • Construção de corpos (a)normais contábeis
  • Papel da Contabilidade na (re)produção das (des)igualdades regionais
  • Contabilidade e (des)construção de identidades
  • Contabilidade e a (re)produção da intolerância religiosa
  • Povos originários e Contabilidade
  • Abordagens interseccionais na Contabilidade
  • Racismo no campo contábil e de gestão
  • Abordagens decoloniais e pós-coloniais na Contabilidade
  • Interfaces entre contabilidade e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU voltados para diversidade e inclusão
  • Interfaces entre as estratégias de práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização ESG, a diversidade e inclusão
  • Orçamento para políticas e práticas voltadas à diversidade e inclusão no setor público e/ou privado
  • Interfaces da contabilidade do setor público com a diversidade e inclusão.

A chamada receberá trabalhos de diferentes perspectivas teóricas, paradigmáticas e metodológicas.

 

Submissão:

Os artigos deverão ter como foco de pesquisa temas gerais que envolvam uma dessas áreas, obedecendo ao número máximo de 5 autores por submissão. Cada autor só poderá ter um artigo aceito e publicado para essa edição, sem distinção entre autoria ou coautoria.

Todas as normas para submissão, políticas de avaliação, normas técnicas e toda e qualquer informação sobre a revista podem ser encontradas no site do periódico (http://www.periodicos.ufc.br/contextus).

Interessados em participar do processo deverão submeter seus artigos obedecendo às normas e padrões de publicação da revista e utilizando os modelos de artigos disponíveis no link http://www.periodicos.ufc.br/contextus/about/submissions#authorGuidelines.

As submissões devem ser feitas pelo sistema, em conformidade com todas as normas da revista, dentro da seção especial “(Des)Igualdade, Diversidade e Inclusão: Abordagens Organizacionais e Contábeis”.

 

Datas relevantes:

Submissão: prorrogadas até 15 de maio de 2023 (ENCERRADAS)

Período de avaliação: até julho de 2023

Previsão de publicação: até dezembro de 2024

 

Referências e indicações de leituras:

Acker, J. (1990). Hierarchies, jobs, bodies: A theory of gendered organizations. Gender & society4(2), 139-158.

Acker, J. (2006). Inequality regimes: Gender, class, and race in organizations. Gender & society20(4), 441-464.

Akotirene, C. (2019). Interseccionalidade. Pólen Produção Editorial Ltda.

Annisette, M., & Prasad, A. (2017). Critical accounting research in hyper-racial times. Critical Perspectives on Accounting43, 5-19.

Bairros, L. (1995). Nossos feminismos revisitados. Revista Estudos Feministas3(2), 458-463.

Brighenti, J., Jacomossi, F., & da Silva, M. Z. (2015). Desigualdades de gênero na atuação de contadores e auditores no mercado de trabalho catarinense. Enfoque: Reflexão Contábil, 34(2), 109-122.

Burrell, G. (1987). No accounting for sexuality. Accounting, Organizations and Society12(1), 89-101.

Ghio, A., McGuigan, N., & Powell, L. (2022). The Queering Accounting Manifesto. Critical Perspectives on Accounting, 102395.

Gonzalez, L. (2020). Por um feminismo afro-latino-americano. Editora Schwarcz-Companhia das Letras.

Haynes, K. (2017). Accounting as gendering and gendered: A review of 25 years of critical accounting research on gender. Critical Perspectives on Accounting43, 110-124.

Hirata, H. (2014). Gênero, classe e raça Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais. Tempo social26, 61-73.

Hopwood, A. G. (1987). Accounting and gender: An introduction. Accounting, Organizations and Society12(1), 65-69.

Komori, N. (2015). Beneath the globalization paradox: Towards the sustainability of cultural diversity in accounting research. Critical Perspectives on Accounting26, 141-156.

Lima, J. P. R. (2022). Be(com)ing a gay accounting academic: discussing the heteronormative violence in the Brazilian society and neoliberal academia. Tese de Doutorado, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo.

Lima, J. P. R., Nova, S. P. D. C. C., de Sales, R. G., & Miranda, S. C. D. (2021). (In) Equality regimes in auditing: are we allowed to bring our true selves to work? Revista Catarinense da Ciência Contábil20, e3147-e3147.

Lopes, I., & Lima, J. P. R. (2022). Diversidade e Inclusão: Reflexões e Impactos da Natureza Política da Contabilidade. Revista Contabilidade & Inovação1(1).

Lugones, M. (2014). Rumo a um feminismo descolonial. Revista Estudos Feministas22, 935-952.

Nascimento, B. (2021). Uma história feita por mãos negras. Editora Schwarcz-Companhia das Letras.

Nascimento, L. (2021). Transfeminismo. Editora Jandaíra.

Nganga, C. S. N. (2019). Abrindo caminhos: a construção das identidades docentes de mulheres pelas trilhas, pontes e muros da pós-graduação em Contabilidade. Tese de Doutorado, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo. doi:10.11606/T.12.2019.tde-14082019-155635.

Nganga, C. S. N., Casa Nova, S. P. de C., Silva, S. M. C. da, & Lima, J. P. R. de. (2022). There’s so Much Life Out There! Work-life Conflict, Women, and Accounting Graduate Programs. Journal of Contemporary Administration, e210318. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2023210318.en

Quinalha, R. (2021). Lampião da Esquina na mira da ditadura hetero-militar de 1964. cadernos pagu.

Quinalha, R. (2021). Contra a moral e os bons costumes: a ditadura e a repressão à comunidade LGBT. Companhia das Letras.

Ribeiro, D. (2018). Quem tem medo do feminismo negro?. Editora Companhia das Letras.

Ribeiro, D. (2019). Lugar de fala. Pólen Produção Editorial LTDA.

Rumens, N. (2016). Sexualities and accounting: A queer theory perspective. Critical Perspectives on Accounting35, 111-120.

Silva, S. M. C. (2019). Nenhum saber a menos! Sociedade, Contabilidade e Gestão, Rio de Janeiro, v. 14, n. 4, 2019. Edição Especial - Qualitative, Critical and Interpretive Accounting Studies. DOI: https://doi.org/10.21446/scg_ufrj.v14i4.31348

Silva, S. M. C. (2016). Tetos de vitrais: gênero e raça na contabilidade no Brasil. Tese de Doutorado, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo. doi:10.11606/T.12.2016.tde-03082016-111152

Tinker, T., & Neimark, M. (1987). The role of annual reports in gender and class contradictions at General Motors: 1917–1976. Accounting, organizatins and society12(1), 71-88.