Vol. 1 No. 38 (2019): REVISTA DE LETRAS
O Ensino da Literatura constitui um desafio que sempre se atualiza ao longo da História. Já entre os gregos e romanos, o assunto se bifurcou entre Retórica e Poética, ramos que disputaram o prestígio de quantos se dedicaram às Letras até o advento do Iluminismo. Nos dois últimos séculos, a complexificação da sociedade repercutiu em demandas tanto da sociedade burguesa, quando o Ensino da Literatura se estendeu a uma camada mais ampla da população, como daquelas deflagradas pela ascensão da classe trabalhadora, na Revolução de Outubro centenária, com a universalização do usufruto do patrimônio literário.
O que se percebe é que o Ensino da Literatura reflete os valores do tempo histórico em que se insere. Exemplo disso é a transição que se deu entre as crestomatias que extrapolaram os limites do século XIX, marcadamente moralistas, e o conceito de letramento literário, das últimas décadas do século XX, que resulta de toda uma revolução de conceitos linguísticos e psicopedagógicos, mas não só, já que toda uma articulação epistemológica se faz necessária a uma cultura pedagógica que dê conta da Literatura como objeto de conhecimento, de criação e de fruição.
Na expectativa de produções sincronizadas com a pesquisa contemporânea sobre o Ensino da Literatura, a atual edição da Revista de Letras convoca autoras e autores a apresentarem trabalhos que envolvam questões como a fruição do texto literário, o letramento literário, a acessibilidade, o papel da biblioteca escolar, a adequação do livro didático, a importância dos suportes que põem o texto literário em circulação, a relação entre o discurso literário e as diversas artes e formas de conhecimento, a memória e identidade, a representação da infância e da adolescência, as questões relacionadas à Literatura Infantil, ao gênero, às minorias étnicas e à diversidade cultural diatópica e diacrônica, com ênfase para as contribuições culturais formadoras da multifacetada cultura brasileira, como a ameríndia, a africana e a ibérica, agregadas ou não sob a lusofonia, a recepção do cânone e as questões ideológicas inerentes às escolhas da práxis pedagógica.
Que o resultado dessas contribuições venham a constituir um documento que, permitindo aquilatar os esforços de pesquisa de nosso tempo sobre o Ensino da Literatura, traga não apenas soluções, mas sobretudo desafios como legado às próximas gerações.